segunda-feira, 16 setembro, 2024

Dia do Folclore: Troca de saberes e culturas entre a Duke University e o CIEP 172

No dia 15 de agosto, quinta-feira, o CIEP 172 – Nelson Rodrigues sediará um intercâmbio entre professores e estudantes da escola, alunos da Duke University, e artistas do Instituto Enraizados, como parte do projeto “Activism, Culture and Education for Citizenship in Brazil and the U.S.”.

Este projeto busca unir acadêmicos, artistas e estudantes da Duke University, da North Carolina Central University (NCCU), do Instituto Enraizados, e da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. O objetivo é explorar as principais formas de ativismo e organização cultural, abrangendo movimentos negros, feministas e LGBTQ+, a memorialização da escravidão, e as expressões religiosas e musicais locais. Além disso, a equipe do projeto examinará eleições e lutas urbanas e trabalhistas, especialmente entre professores de escolas públicas.

Para este evento, eu, Dudu de Morro Agudo, juntamente com o educador e animador cultural Antônio Feitosa, e o grafiteiro e arte-educador FML, estamos organizando uma celebração em homenagem ao Folclore Brasileiro, que é dia 22 de agosto. Entre as atividades planejadas, teremos uma exposição fotográfica do projeto “Meu Bairro, Meu Ambiente” e um sarau de poesias com artistas do Instituto Enraizados.

No dia 9 de agosto, o grafiteiro FML conduzirá uma oficina de pintura, onde os estudantes da escola criarão um painel em homenagem aos artistas locais Jota Rodrigues e João do Vale, que alcançaram expressão nacional, e que será exposto no dia 15. A proposta é que, durante as atividades culturais, tanto os estudantes do CIEP quanto os alunos da Duke University possam interagir, aprendendo e compartilhando sobre suas respectivas culturas.

Jota Rodrigues e João do Vale

 

Tanto Jota Rodrigues quanto João do Vale traziam fortemente o folclore brasileiro em suas criações. Suas obras foram profundamente enraizadas nas tradições populares do Nordeste do Brasil. Eles utilizava elementos do folclore em suas músicas, retratando a vida e os costumes do povo nordestino com grande autenticidade e sensibilidade.

Lembrando que o Folclore Brasileiro é um conjunto de manifestações culturais populares que englobam tradições, lendas, danças, festas, músicas, crenças, e costumes transmitidos oralmente de geração em geração. Essas manifestações refletem a diversidade cultural do Brasil, resultante da mistura de influências indígenas, africanas, europeias, e outras culturas que compõem a sociedade brasileira.

Por isso, este intercâmbio é uma oportunidade única para promover a troca cultural e educacional entre estudantes e artistas de diferentes contextos. Ao celebrar o mês do Folclore Brasileiro e honrar artistas locais, o evento não apenas enriquece o conhecimento dos participantes, mas também fortalece os laços comunitários e internacionais.

A atividade será exclusiva para os estudantes da escola, com acesso restrito ao público externo, exceto para alguns artistas convidados da cidade de Nova Iguaçu.

Jota Rodrigues

Jota Rodrigues, nascido em Pernambuco, era caboclo, filho de um sertanejo e de uma mãe da etnia Fulni-ô. Ainda na década de 1970, migrou para o Rio de Janeiro com sua esposa e filhos, estabelecendo-se na Baixada Fluminense, no município de Nova Iguaçu. Reconhecido como poeta, Rodrigues publicou mais de 400 títulos de literatura de cordel e também produziu trabalhos em xilografia. Além disso, era um estudioso da flora medicinal, cultivando plantas em seu jardim para distribuir entre amigos e vizinhos.

A influência de seu pai violeiro e de seu primeiro ofício – guiando um cego que memorizava versos e cantava de porta em porta – foi decisiva para a arte de Jota Rodrigues. Como ele próprio disse: “Aquilo foi me envenenando de uma tal maneira que o meu caminho era só aquele mesmo, não tinha outra coisa que me dominava”.

Alfabetizado apenas aos 8 anos, Rodrigues se transformou em um multiartista, destacando-se no cordel, na música e nas artes plásticas. Ao longo de sua vida, publicou mais de 400 folhetos de cordel, xilogravuras, fotografias, entrevistas gravadas em vídeo e áudio, discos, novelas e roteiros de filmes.

Depois de passar por vários lugares, fixou-se no Rio de Janeiro. Tentou se estabelecer na Feira de São Cristóvão, um reduto de cordelistas, mas foi o encontro com especialistas em cultura popular que lhe abriu portas para outros universos, como escolas e universidades, onde passou a dar palestras.

Ainda em vida, foi reconhecido pela importância cultural de sua obra, sendo homenageado pela Câmara Municipal de Nova Iguaçu e tornando-se patrono de diversas bibliotecas escolares e comunitárias na Baixada Fluminense, onde residia.

Jota Rodrigues faleceu em 2018, aos 84 anos. Ele é lembrado como o primeiro artista a expor na SAP, quando esta foi inaugurada em 1983, e continua sendo homenageado por suas contribuições à cultura popular e à arte brasileira.

João do Vale

João Batista do Vale, mais conhecido como João do Vale, foi um cantor e compositor brasileiro que deixou uma marca indelével na música popular do país. Nascido em 11 de outubro de 1934, em Pedreiras, no Maranhão, João sempre teve uma forte conexão com a música, apesar de sua origem humilde.

Ainda jovem, em 1947, mudou-se para São Luís, onde começou a compor músicas com um grupo de Bumba meu boi chamado Linda Noite. Aos 16 anos, em 1950, chegou ao Rio de Janeiro, onde trabalhou como ajudante de pedreiro e se apresentou na Rádio Nacional, ganhando reconhecimento como o “Poeta do Povo”.

João do Vale é autor de clássicos como “Carcará”, interpretado por Maria Bethânia, “Pisa na Fulô” com Ernesto Pires e Silveira Júnior, e “Peba na Pimenta” com Adelino Rivera. Sua carreira inclui colaborações com grandes nomes da música brasileira, como Luiz Gonzaga, Marlene, Dolores Duran e Luís Vieira.

Um fato pouco conhecido é que João do Vale morou por 27 anos em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. De 1969 a 1996, ele residiu no conjunto habitacional Rosa dos Ventos, que mais tarde deu origem ao bairro homônimo. Durante a ditadura militar, após o sucesso de “Carcará”, João foi preso em uma manifestação camponesa e, após ser solto com a ajuda de José Sarney, retornou ao Rio de Janeiro e se estabeleceu em Nova Iguaçu com sua família. Ele permaneceu lá até sofrer um segundo derrame, após o qual voltou para sua cidade natal, Pedreiras, onde faleceu em 6 de dezembro de 1996, aos 62 anos.

O legado de João do Vale é amplamente celebrado, incluindo homenagens em peças teatrais e a trilha sonora da novela “Cordel Encantado” da TV Globo, que contou com suas músicas “Carcará” e “Estrela Miúda”. Em 1995, o teatro no centro de São Luís foi batizado em sua homenagem.

Toda a história de sua vida em Nova Iguaçu está documentada no livro “Rosa dos Ventos, a estrela miúda de João do Vale”, fruto da pesquisa acadêmica de Marize Conceição na Universidade Federal Fluminense (UFF). O livro, lançado no Centro de Convivência Nordestina no bairro da Luz, detalha como João do Vale foi morar no conjunto habitacional Rosa dos Ventos durante a ditadura militar e permaneceu ali até pouco antes de sua morte.

SAIBA MAIS:

Dia do Folclore – Intercâmbio Internacional
15 de agosto de 2024 – Das 10:30 às 13:00
No CIEP 172 – Nelson Rodrigues, em Morro Agudo

Activism, Culture and Education for Citizenship in Brazil an the U.S. : https://sites.duke.edu/project_duke_baixada_project

 

Sobre Dudu de Morro Agudo

Rapper, educador popular, produtor cultural, escritor, mestre e doutorando em Educação (UFF). Dudu de Morro Agudo lançou os discos "Rolo Compressor" (2010) e "O Dever Me Chama" (2018); é autor do livro "Enraizados: Os Híbridos Glocais"; Diretor dos documentários "Mães do Hip Hop" (2010) e "O Custo da Oportunidade" (2017). Atualmente atua como diretor geral do Instituto Enraizados; CEO da Hulle Brasil; coordenador do Curso Popular Enraizados.

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