Quem passa em frente a entrada principal da Universidade Castelo Branco (UCB), em Realengo, Zona Oeste do Rio de Janeiro, é surpreendido por uma situação, no mínimo, inusitada. Trata-se de uma gambiarra, algo bem próximo de uma instalação artística. Ao se aproximar da intervenção, o encanto termina e onde a indignação começa. Cerca de 20 bicicletas estacionadas na calçada e presas à grade do muro da instituição dificultam a passagem de pedestres. As bicicletas pertencem aos estudantes da UCB. A universidade não oferece local apropriado para que seus alunos guardem suas bikes enquanto assistem às aulas.
Para Daniel de Souza Cruz, de 20 anos, estudante de publicidade e propaganda e morador de Senador Camará, a bicicleta é um transporte fixo diário e econômico. “Tem gente que mora em um lugar que dá para vir de bicicleta e acaba gastando dinheiro de passagem, se sufocando. Às vezes até para de vir para a faculdade, tranca porque tem coisas a pagar. E vindo de bicicleta, poderia economizar. Só de ida e vinda, com uma para ir e uma para voltar, 5,50. Se for somar isso ao mês, já dá para tirar bastante xerox. Ou também pagar a metade da faculdade. Da minha casa até aqui gasto 30 minutos. Venho desde o início da faculdade e com um pouquinho de medo. Já tive bicicleta roubada aqui, uma Poti preta. Agora procuro fixar um pouco mais perto da porta para ficar mais tranquilo. Eu faço tudo de bicicleta. Se eu fosse trabalhar de ônibus e depois vir para a faculdade, usaria três passagens por dia. Só não venho de bicicleta quando está chovendo”, disse.
No turno da noite, estudantes de diversos cursos utilizam a bicicleta como meio de transporte. Desde alunos do curso de matemática aos de comunicação social. A Castelo Branco também conta com um Colégio de Aplicação (CAP) no local, com turmas de ensino fundamental e médio, o que pressupõe o uso de bicicleta por esses estudantes.
“De Kombi é mais rápido, andando demora muito. Mas de bicicleta é o ideal mesmo porque em 15 minutos eu chego aqui. Chegando aqui, encontro dificuldades. Tenho que levantar a bicicleta nos braços para poder trancar com o cadeado. Entrei esse ano na escola e não ouvi nenhuma conversa sobre bicicletários”, contou Wallace da Silva Quirino, 15 anos, estudante do 9º ano do CAP e morador de Realengo.
Os cursos de nível superior funcionam em dois turnos, manhã e noite. O número de estudantes do CAP que utilizam a bicicleta no trajeto entre a casa e a escola, somado aos estudantes ciclistas da UCB, só aumenta a aglomeração na calçada e na grade em frente à instituição. Para Fernanda Pocidonio, estudante de educação física, é imprescindível um bicicletário. “Eu já fui roubada aqui na universidade. Levaram minha bicicleta enquanto eu estava na aula. Acho uma falta de respeito com os estudantes. A universidade possui estacionamento e não cede um espaço para as bicicletas. É necessário”, afirma.
A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável – Rio +20, sediada em junho de 2012, no Rio de Janeiro, colocou a cidade no centro das discussões sobre a relação do Homem com o meio ambiente e a questionou sobre o quão sustentáveis era o seu próprio cotidiano. A Universidade Castelo Branco oferece o curso superior de Tecnologia em Gestão Ambiental, o que sugere sensibilidade ao tema. Levando em consideração a situação dos estudantes e o problema gerado para os pedestres com a falta de local apropriado para o estacionamento das bicicletas, fica clara a necessidade da instalação de bicicletários dentro da instituição, garantindo a segurança dos ciclistas e evitando transtornos aos pedestres.
Para Vera Gissoni, chanceler da Castelo Branco, o entrave é o prejuízo que as perdas e os danos às bicicletas podem trazer para a universidade. “Esse ano não tem projeto. Nós tínhamos (bicicletários), mas roubaram as bicicletas e quem tem que pagar somos nós. E isso não nos interessa. Estou sendo sincera. Se cada aluno que perder a bicicleta e colocar na nossa culpa… A mensalidade não dá para pagar a bicicleta. O aluno não entende isso. Colocar ali na frente não tem problema. Agora, não queira que eu compre uma bicicleta para você. Acho importantíssimo ter um bicicletário, eu não quero que você amanhã me diga que perdendo a bicicleta, eu tenho que pagar. Eu não vou te prometer (a instalação de bicicletários) esse ano. Eu não vou prometer uma coisa que eu não posso cumprir. Mas eu vou levar essa questão”, explica.
Texto: Yasmin Thayná