quinta-feira, 21 novembro, 2024

Juventude e Mobilidade Urbana: mais de 06 horas para ir de Nova Iguaçu à Duque de Caxias e voltar

Olá leitores do Portal Enraizados!!!

Estamos de volta com mais uma matéria falando sobre Mobilidade Urbana. Na primeira, eu (Dorgo) e Beatriz Dias, afim de respondermos algumas questões relacionadas com a juventude e a mobilidade urbana, decidimos acompanhar três outros jovens que cortaram cinco cidades, em uma trajetória de mais de 40 quilômetros, em busca de uma nova experiência cultural. <<leia aqui>>

Beatriz Dias e Dorgo
Beatriz Dias e Dorgo

A matéria de hoje tem a mesma dinâmica, mas com uma missão diferente: curtir o Rap Free Jazz, em Duque de Caxias.

O Rap Free Jazz é um evento no formato de Roda Cultural, realizado pelo Coletivo FALA há dois anos, com o intuito de ser itinerante e levar os acontecimentos da Baixada Fluminense para a própria Baixada, através das artes.

Caso queira conhecer melhor, pode conferir na matéria que escrevemos sobre o projeto.

No dia 21 de outubro, rolou a edição do Rap Free Jazz com seletiva para o Duelo Nacional de MC’s, de onde saiu um representante da Baixada Fluminense. O evento aconteceu na Praça do Galo, no Parque Fluminense, em Duque de Caxias, e teve seu início ás 18:30.

Nossos personagens neste artigo são:

• Albert Paula (Einstein NRC), 21 anos, Mc e Beatmaker.
• Camila Lemos, 22 anos, Produtora e empreendedora.
• Victor Carvalho, 22 anos, Produtor cultural e técnico em eletrônica.

A ideia desse artigo, assim como no último, é responder algumas questões relacionadas com a mobilidade urbana sob a ótica da juventude periférica, como opções de transporte, valor das passagens, estado de conservação do coletivo e segurança.

Para que você possa se situar, o Parque Fluminense é um bairro do município de Duque de Caxias, com cerca de 13 mil habitantes, que faz divisa com o município de Belford Roxo. A Praça do Galo se localiza próximo a estrada do China, uma das principais vias do bairro, que fica a 23,6 quilômetros de distância de Morro Agudo, bairro mais populoso da cidade de Nova Iguaçu, local de partida da nossa jornada.

As nossas opções de transporte eram:

1. Trem da Super Via, sentido Central do Brasil. Baldeação na estação Maracanã, novo trem sentido Gramacho e descer na estação Duque de Caxias e outra condução até a praça. Um trajeto total de 02:20 (duas horas e vinte minutos) de duração, com o custo de R$8,20 (oito reais e vinte centavos).
2. Ônibus até a rodoviária de Nova Iguaçu. Ônibus da viação Flores “115-Duque de Caxias” até a Estrada do China e andar cerca de 05 minutos até a Praça do Galo, trajeto com 02:00 (duas horas) de duração e custa de R$7,80 (sete reais e oitenta centavos).
3. Ônibus na Dutra (várias opções) até o “Posto 13”, com trajeto de cerca de 15 minutos. Ônibus da viação Flores “115-Duque de Caxias” ou o “116-Duque de Caxias”, também da viação Flores, até a estrada do China e andar cerca de 05 minutos até a Praça do Galo, num trajeto com 01:30 (uma hora e trinta minutos) de duração, com o total de 01:50 (uma hora e cinquenta minutos) custando R$8,60 (oito reais e sessenta centavos).

As principais metas desse rolé eram economizar e não chegar tarde no evento. Como a faixa de preço não diferenciava muito entre as opções, demos preferência ao tempo de viagem e fomos pela Dutra, por ser um trajeto mais curto e mais rápido.

Saímos de Morro Agudo às 18:00 e esperamos cerca 40 minutos pelo ônibus, que demorou 25 minutos pra chegar ao Posto Treze, lá esperamos cerca de 01 hora pelo ônibus que nos levaria até o Parque Fluminense, num trajeto que durou cerca de 01:50 (uma hora e cinquenta minutos), tendo como tempo total da viagem 03:55 (três horas e cinquenta e cinco minutos), contrariando a estimativa de tempo apresentada pelas empresas de ônibus.

O mesmo trajeto de carro leva em média 36 minutos de duração.

O Einstein diz que “é muito complicado pra todo mundo circular, até mesmo dentro da Baixada Fluminense, pois muitas vezes temos que pegar 2, 3 e até 4 conduções pra chegarmos no local que desejamos. Se tiver sem dinheiro e precisar esperar um ônibus específico, pode ficar horas no ponto esperando”.

Camila acrescenta a fala de Einstein dizendo que “não é uma experiência muito agradável, se você não tem dinheiro, perde o direito de ir e vir, que teoricamente seria um direito de todos”.

Albert Paula (Einstein NRC), 21 anos, Mc e Beatmaker
Albert Paula (Einstein NRC), 21 anos, Mc e Beatmaker

Como já foi dito, escolhemos esse trajeto para poupar tempo, porém os atrasos e as estradas cheias de buracos tornam o percurso cada vez mais difícil e demorado.

Quando perguntamos ao Victor sobre os obstáculos de transitar entre as cidades da Baixada Fluminense, ele comenta com humor “que tem vários obstáculos, literalmente”.

“É muito complicado gastar cerca de R$20,00 com transporte estando desempregada, é uma situação muito difícil. O que culmina também na perda de muitas oportunidades de emprego, por conta das empresas darem preferência a pessoas que gastam menos passagem”, diz Camilla.

A segurança é uma das maiores preocupações dos jovens que se aventuram para curtir eventos em outras cidades, o perigo que estávamos correndo com os equipamentos na rua acabou resultando na falta de dinâmica na hora de tirarmos algumas fotos, por mais que estivéssemos em grupo, o medo falava mais alto.

Rap Free Jazz

Para Einstein “o gasto não compensa, por que as ruas são muito danificadas, os transportes são de péssima qualidade, os horários são muito incertos e além de tudo isso, os passageiros sofrem com a falta de segurança”.
“Não sei se mais policiamento nas ruas resolveria” comenta Camilla, em tom de descontração.

Chegamos ao nosso destino com 01:55 (uma hora e cinquenta e cinco minutos) de atraso, já estava no segundo round da batalha de MC’s e mesmo assim valeu muito a pena. Vimos um representante da Baixada Fluminense levando a vaga para a seletiva do Duelo Nacional de MCs, além do show de Felipe Westt com a participação do Einstein.

Victor Carvalho, 22 anos, Produtor cultural e técnico em eletrônica.
Victor Carvalho, 22 anos, Produtor cultural e técnico em eletrônica.

Próximo ao fim do evento, nos deslocamos um pouco e fomos até o fim da praça conversar sobre o tema abordado. Como ainda eram 03:30 da manhã conversamos com bastante calma, já que os ônibus só voltariam a circular às 05 horas da manhã.

Camilla afirma que “os principais problemas de mobilidade são, além do valor alto das passagens, o perigo de transitar pelos lugares e a baixa rotatividade dos ônibus que, além de demorar, param de circular cedo muitas das vezes”.

Ao ser questionado sobre a experiência de se deslocar de Morro Agudo até o Parque Fluminense (local onde aconteceu o evento) Victor diz: “Pô, a gente tem que gastar uma grana boa e ainda ficar no mínimo duas horas em condução, se eu tivesse carro, com certeza iria preferir transitar de carro, tudo bem que tem os problemas de trânsito e etc, mas o custo-benefício acaba compensando mais.

Após cerca de uma hora de conversa fomos andando até o ponto de ônibus, e na saída da Praça encontramos uma menina que perguntou se estávamos indo para o ponto de ônibus, e ao afirmarmos ela perguntou se podia nos acompanhar, pois estava sozinha e com medo, fato que infelizmente já faz parte de nossas rotinas, ainda mais quando se é mulher.

Chegamos no ponto de ônibus, mas dessa vez não esperamos muito, em menos de 10 minutos passou o primeiro ônibus para Nova Iguaçu, embarcamos e durante o trajeto, a cena cotidiana se repetiu, Beatriz foi assediada dentro do transporte público.

Camila Lemos, 22 anos, Produtora e empreendedora
Camila Lemos, 22 anos, Produtora e empreendedora

Ao chegarmos em Nova Iguaçu, aproximadamente às 06:20 da manhã, esperamos mais uns 20 minutos até pegarmos o ônibus para Morro Agudo. Chegamos às 07:10 em casa.

O rolé teve 13 horas e 10 minutos de duração, desde a hora que saímos de casa até a hora que chegamos, porém 06 horas e 15 minutos foram destinados ao deslocamento, o que é um absurdo se tratando de um trajeto que pode ser feito em menos de uma hora de carro.

No final das conversas com cada um, os questionei sobre algumas soluções que segundo eles poderiam ser tomadas para melhorar o transporte público.

Einstein acha que “a principal melhoria a ser realizada é a manutenção dos ônibus, que são precários e obviamente a passagem, que já ultrapassou o absurdo, porém o poder público deveria intervir nisso, fazendo algum tipo de fiscalização quanto ao serviço oferecido pelas empresas de transporte público”.

Na opinião de Camilla “só aumentar a rotatividade dos ônibus já resolveria bastante coisa”.

Para Victor as empresas deveriam disponibilizar mais linhas de ônibus, uma grade de horários melhor e seguida à risca”. Ele diz também que as empresas deveriam fazer alguma espécie de plataforma onde os passageiros pudessem acompanhar os ônibus, para saber o horário exato em que ele chegará ao ponto, evitando transtornos ao esperar os coletivos por muito tempo”.

 

Licença Creative Commons
O trabalho Juventude e Mobilidade Urbana: mais de 06 horas para ir de Nova Iguaçu à Duque de Caxias e voltar. de Marlon Gonçalves, Beatriz Dias e Flávio de Assis, faz parte de uma série de reportagens sobre Mobilidade Urbana da 1ª Chamada Pública do Fundo Casa Fluminense e está licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição 4.0 Internacional.

Sobre Hulle Brasil

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