domingo, 22 dezembro, 2024

O que você faria se só tivesse um mês de vida?

Olá a todos e todas que acompanham minha coluna semanal aqui no Portal Enraizados.

A minha coluna de hoje é uma provocação daquelas, mas tenho certeza que se você aceitar o desafio irá perceber que não dá tanto valor quanto deveria às sagradas 24 horas do seu dia.

Os últimos meses estão me servindo de palco para uma análise profunda sobre minha existência. Quando eu era criança tinha muito medo de morrer – hoje não tenho tanto. Meu medo nem era de morrer, mas de não saber pra onde eu iria ou quem eu encontraria lá do outro lado. Eu nem sabia se havia um outro lado – e ainda não sei, mas espero que exista.

No fundo eu acho que meu medo era de me afastar daqueles que eu amava e que estavam aqui. Eu não queria deixar meus amores aqui.

Eu fui crescendo e esse meu pavor da morte foi se afastando de mim, me tornando um ser quase imortal. A morte já não me incomodava tanto. Apesar de toda hora morrer um ou outro assassinado aqui no bairro, ainda assim era algo distante de mim, até o dia que eu perdi uma pessoa que amo muito. Minha avó.

A morte bateu aqui no portão e levou um bem precioso.

Todos os meus fantasmas me assombraram novamente, mas dessa vez eles fizeram um upgrade e vieram mais potentes. Meu medo de morrer havia voltado, mas de uma forma diferente.

Tantas coisas que eu queria ter dito pra minha avó e eu não disse, tive tantas oportunidades e não disse. Sempre achava que haveria uma nova oportunidade amanhã, até que um dia não houve amanhã.

A partir daí eu comecei a valorizar mais as pessoas e os momentos, mas às vezes eu ainda me surpreendo como as responsabilidades do dia a dia me afastam daquilo que realmente importa.

Nessa hora me faço a pergunta: O que eu faria se me restasse apenas um mês de vida?

  • Faço aquela música que está em Stand By à meses;
  • Ligo pra minha namorada, filha, mãe e digo o quanto as amo;
  • Faço aquela viagem que nunca dá;
  • Visito um amigo de infância.

Outro dia eu estava no supermercado, contando as moedas para comprar somente o necessário, economizando de tudo o que é lado, quando me deparei com uma caixa de bombom e me deu vontade de levar para minha filha, minha mãe e minha namorada. Não tinha dinheiro, mas e daí?

Talvez não houvesse outro dia.

E você, o que faria se só te restasse um mês de vida?

Sobre Dudu de Morro Agudo

Rapper, educador popular, produtor cultural, escritor, mestre e doutorando em Educação (UFF). Dudu de Morro Agudo lançou os discos "Rolo Compressor" (2010) e "O Dever Me Chama" (2018); é autor do livro "Enraizados: Os Híbridos Glocais"; Diretor dos documentários "Mães do Hip Hop" (2010) e "O Custo da Oportunidade" (2017). Atualmente atua como diretor geral do Instituto Enraizados; CEO da Hulle Brasil; coordenador do Curso Popular Enraizados.

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