domingo, 22 dezembro, 2024

Porque precisamos de médicos cubanos.

De muito tempo vejo uma galera reclamar que o governo está enchendo o Brasil de cubanos por causa do programa Mais Médicos. Lembro de ter visto na TV médicos brasileiros se manifestando contra, alegando que os cubanos estavam tomando seus empregos.

Na ocasião a Presidenta Dilma foi a TV e disse que os médicos cubanos iriam para as regiões que os médicos brasileiros não querem ir, isto é, as periferias dos grandes centros e para o Norte e Nordeste do país.

Vou contar para você uma história curta, que aconteceu comigo na última quinta-feira (09).

Crônica

Eu estava me sentindo mal há cerca de 10 dias, com dor de cabeça, suando muito durante a noite e com a garganta sempre inflamada. Mas não queria ir ao médico porque eu tinha “quase” certeza que esses sintomas eram pelo fato de eu estar dormindo e me alimentando mal, e com uma rotina de stress intenso.

Mas a notícia de que um homem contaminado com Ebóla havia chegado ao Brasil gerou um certo pânico lá em casa, e o assunto “doença” ganhou gastante enfase, até que minha namorada, depois de me aterrorizar durante horas, acabou me convencendo de ir ao médico no dia seguinte.

No dia 09, quinta-feira, acordei cedo, fazia um calor insuportável. Liquidei alguns compromissos e na hora do almoço me dirigi ao Hospital das Clínicas de Nova Iguaçu,  que na verdade fica em Mesquita.

Lá chegando, não me espantei com a fila, pois já esperava, mas me espantei com tanta reclamação que os pacientes faziam. Sempre relacionados ao atendimento dos médicos.

Até que depois de alguns bons minutos, que beiravam a uma hora de espera, chegou a minha vez. O médico, um rapaz BRANCO – como sempre, me olhou e perguntou o que eu estava sentindo. Eu respondi: – Doutor, tenho dores de cabeça, estou suando muito a noite, tenho tosse, catarro e minha garganta inflama quase todos os dias.

Ele ouviu tudo e disse: – SÓ PODE SER VIROSE.

O médico não me encostou um dedo, não examinou e nem pediu nenhum tipo de exame. Só disse que era virose.

Acho que pela minha cara de espanto ele resolver pedir um exame de sangue. E passou uma medicação que até agora eu não sei pra que era. Só sei que a injeção queimava como fogo. Após o resultado, que para sair demorou no mínimo duas horas bem medidas, ele constatou: – É dengue, pois suas plaquetas estão baixas.

Disse pra eu tomar bastante liquido, consumir frutas cítricas e de 06 em 06 horas tomar um remédio que eu não me lembro o nome, pois ele não me deu receita alguma.

Chegando em casa. Repousei um pouco, como fui orientado, mas quando acordei fui questionado por minha namorada e minha mãe sobre a atuação do tal médico. Elas fizeram eu voltar ao hospital, e passar por tudo aquilo novamente, mas desta vez minha namorada foi comigo e exigiu uma radiografia do pulmão e que o médico verificasse a minha garganta, e ainda exigiu que ele desse uma receita com remédios para tosse também.

O segundo médico era mais velho, mas também era BRANCO. Ele olhava para minha namorada com uma cara de espanto, tentando imaginar quem era aquela pessoa que dizia o que ele tinha que fazer. Acho que ele imaginou que ela era algum tipo de fiscal que estava dando uma batida naquele hospital.

Graças a Deus eu realmente não tinha nada, como ficou comprovado nos exames que fiz da segunda vez. Mas a pergunta que não quer calar é: – Como os médicos saberiam disso sem os exames?

Pelo que tenho lido, os tão abomináveis médicos cubanos são muito mais humanizados do que nossos conterrâneos brazucas e tratam seus pacientes com muito mais respeito.

Que venham todos os médicos cubanos e ocupem as vagas de quem não quer trabalhar por aqui.

Sobre Dudu de Morro Agudo

Rapper, educador popular, produtor cultural, escritor, mestre e doutorando em Educação (UFF). Dudu de Morro Agudo lançou os discos "Rolo Compressor" (2010) e "O Dever Me Chama" (2018); é autor do livro "Enraizados: Os Híbridos Glocais"; Diretor dos documentários "Mães do Hip Hop" (2010) e "O Custo da Oportunidade" (2017). Atualmente atua como diretor geral do Instituto Enraizados; CEO da Hulle Brasil; coordenador do Curso Popular Enraizados.

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