A estória começou há muito tempo atrás. Era século XIX, num lugar próximo daqui que não se pode precisar o nome, mas era no Brasil. Estava próximo o fim da escravidão e aquele jovem homem maltratado pelo tempo e pelo trabalho pesado não conseguia imaginar o futuro longe de sua amada, linda, mesmo sofrida, com um sorriso fora do comum.
Eis que a alforria chegou, foi festa de arromba mesmo sem mantimentos, alegria por estar livre, mas, para onde ir?
Jogados à própria sorte, foram parar na parte mais alta da cidade, uma subida íngreme onde com barro e pedaços de madeira construiram seu barraco. Comiam vegetais que sabiam cultivar, usavam lenha como combustível, não conseguiam proteínas animais.
Cansado de tanta pobreza ele foi a luta; desceu o morro, mas foi perseguido pela polícia, pois sem sapatos era enquadrado por vadiagem. Deixou a nega grávida, nem ele mesmo sabia.
Ela soube pouco antes de parir que seu amado havia sucumbido. Desesperada e com o filho no colo não teve alternativa, com sua beleza conseguia alguns trocados, voltava a casa para alimentar o filho, que ficava com a vizinha igualmente desafortunada, mas que tinha um companheiro estivador. Era onde comiam carne, fruto de alguns desvios do cais.
Seu filho; cresceu; formou família, não foi a escola, era impossível. Um ciclo que se repetia com pobreza e tragédias, furtos e submissão.
Em sua atual geração essa herança esta na Presidente Vargas, o “Di Menor” atual se alimenta com pequenos furtos, em geral de celular, que vende para comer pastel, sua favorita refeição.
Um dos irmãos foi morar em Nova Iguacu com a avó paterna. O menino consegue ir à escola, que é para ele a maior alegria, em várias gerações, ele é o primeiro a completar o ensino fundamental.
Dia desses ele até apareceu na TV. Me contou que ficou muito feliz nesse dia, pois ganhou um copo de suco, comida gostosa, salgadinhos e ainda vai ficar famoso!
E tem gente que quer mudar o destino desses meninos. Mas quando assumem o poder eles mudam de ideia.
A revolução só existe até a véspera.