quinta-feira, 7 novembro, 2024
Colunista Dudu de Morro Agudo
Colunista Dudu de Morro Agudo

Bienal do Livro, meu inferno particular

No último sábado, 31 de agosto, afim de fazer minha filha feliz, prometi levá-la a Bienal do Livro, no Rio Centro. Fiz meus calculos sobre horários, baseado em uma experiência passada, onde palestrei no evento, no stand da Petrobrás e da editora Aeroplano. Achei que se saísse de casa às 13 horas, chegaria no Rio Centro às 14:30, passaria por alguns stands com minha filha, compraria alguns livros e viria embora às 18:00, conseguindo chegar em Nova Iguaçu a tempo de honrar meus compromissos.

Certo? Errado!!!! Deu tudo errado.

Eu, minha filha e minha namorada, saímos de casa como previsto, às 13:00, mas começamos a pegar o engarrafamento na linha vermelha, entrada para linha amarela. O engarrafamento extendeu-se por toda a linha amarela, piorando nos arredores do evento.

Chegamos às 16 horas, depois de muito sofrimento nos engarrafamento no entorno do Rio Centro, inclusive encontrando portões fechados por lotação de carros, tive que contornar toda a extensão do local, afim de encontrar o Portão A, que era o único aberto ao público que chegava de carro, me deparei com uma enorme fila para entrar no estacionamento.

Com muito custo consegui estacionar o carro e então decidi pagar antecipadamente o estacionamento, encontrei uma fila pequena, mas um preço salgado. R$18 por 12 horas no local. Depois disso eu estava feliz da vida porque entraria e conseguiria ver os tal stands.

Certo? Erraaaaaado!!!!

Fila para comprar ingresso na Bienal do Livro 2013Havia uma fila, ou melhor, algumas filas, com centenas de pessoas, era a fila para comprar o ingresso para entrar no inferno. Decidi manter a calma e enfrentar a fila. Minha namorada e minha filha sugeriram ir embora e voltarmos outro dia, mas essa era uma opção inválida no momento, meu orgulho falava mais alto. Pagando meia entrada, gastei R$21 referente aos R$7 de cada um que estava comigo e finalmente entramos.

Era tanta coisa pra olhar que eu nem sabia por onde começar. Minha filha que simplesmente ama livros, ficou parada esperando que eu decidisse por onde começar. Eu disse: – Vai andando e aproveita, olhe tudo.

Eram exatamente 16:30 quando ela viu um stand com um monte de adolescentes – minha filha tem 13 anos – e disse que queria entrar para ver uns livros, mas havia um fila enorme ela decidira enfrentar tal fila. Enquanto ela ficava lá, sentada no chão, junto com centenas de outros adolescentes, esperando a hora de entrar no tal stand que eu nem me preocupei em ver o nome, eu e minha namorada explorávamos os outros stands e pavilhões.

Cerca de uma hora depois, às 17:30, liguei para minha filha para saber se ela já havia escolhido algum livro, porque ela não estava com dinheiro e teria que comprar no meu cartão, mas me assustei quando ela disse que ainda estava na fila para entrar. Fui atrás dela para convencê-la a não ficar mais na fila e conhecer outros lugares, mas ao encontrá-la, somente com o olhar ela me convenceu que era aquilo ali que ela queria e minutos depois conseguiu entrar.

God Of WarEu a orientei a olhar algo que quisesse e me ligar, que eu iria até o local para pagar a conta. Cerca de vinte minutos depois ela me ligou, dizendo que já havia escolhido o livro, mas no momento eu estava lanchando e disse que logo logo iria ao encontro dela. Quando voltava ao pavilhão azul, o primeiro pavilhão que chegamos, liguei pra ela algumas vezes, pois não estava conseguindo vê-la no stand e o telefone dela estava dando uma mensagem de que estava fora de área. Com muita insistência consegui falar com ela, que me assustou novamente, informando que estava do lado de fora do stand, na fila para pagar o livro que havia escolhido. Fui até ela, deixei meu cartão de crédito com ela e voltei para explorar mais um pavilhão.

Ela ficou mais uma hora na fila. Enfim, às 19 horas ela havia comprado o livro. Eu comprei um também, mas foi bem mais fácil. Então decidi ir embora às 19 horas para poder cumprir meus outros compromissos, que era um show em Austin e depois o Sarau Donana, em Belford Roxo.

Fiquei cerca de uma hora para sair com o carro do Rio Centro, os ponteiros do relógio marcavam 20:00 e meu desespero era enorme, Léo da XIII me ligando e eu dizendo que estava difícil de sair da Barra da Tijuca. Cerca de uma hora depois – 21:00 – eu ainda estava na Barra da Tijuca, agarrado em algum ponto engarrafado do bairro, e as coisas foram melhorar uns trinta minutos mais tarde, quando eu consegui um fluxo bom na linha amarela, depois peguei a linha vermelha e fui direto para o Centro Cultural Donana, onde cheguei às 22:30.

Minha filha ficou três horas na Bienal do Livro 2013:

  • Uma hora na fila para entrar no evento;
  • Uma hora na fila para entrar no stand;
  • Uma hora na fila para comprar o livro.

Então tive que prometer a ela que a levaria novamente num dia de semana, mas se ela me prometesse que não ficaria na fila.

Sobre Dudu de Morro Agudo

Rapper, educador popular, produtor cultural, escritor, mestre e doutorando em Educação (UFF). Dudu de Morro Agudo lançou os discos "Rolo Compressor" (2010) e "O Dever Me Chama" (2018); é autor do livro "Enraizados: Os Híbridos Glocais"; Diretor dos documentários "Mães do Hip Hop" (2010) e "O Custo da Oportunidade" (2017). Atualmente atua como diretor geral do Instituto Enraizados; CEO da Hulle Brasil; coordenador do Curso Popular Enraizados.

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