Meu entrevistado de hoje é meu conterrâneo, nascido em Nova Iguaçu, no hospital Nossa Senhora de Fátima, porém criado em Nilópolis, cidade que mora atualmente, tem 17 anos de carreira, já tocou em países como Holanda e Alemanha, e é com certeza um DJ polivalente.
Com vocês Sandro Machintal, ou simplesmente DJ Machintal.
Dudu de Morro Agudo – Qual a parada mais maneira que tu já fez como DJ?
DJ Machintal – Entre algumas que me marcaram muito, participei do G.R.A.P., que é um projeto da Nação Crew com um grupo de poetas contemporâneos, como a Claudia Roquette Pinto, Renato Rezende e o Francisco Bosco. O projeto mesclava poesia com rap e graffiti. Através dele fui pra Berlim, participar do Poesie Festival/Literatur Werkstatt, que é um dos – se não for o maior – festival de poesia da Europa. Na época fomos eu, o Ment, Bragga, Renato e a Claudia. Lá rolou uma performance, um painel gigante, onde o Bragga e o Ment faziam o cenário que retratava os poemas, e eu fazendo a instrumentação, com beats, scratches e sonoplastia, soltando trilhas e efeitos para ilustrar o que estava sendo feito. Foi algo bem marcante . Mas poderia citar vários outros que foram importantes durante esses anos.
Essa foi a primeira vez que você saiu do país?
Não, a primeira vez eu fui pra Holanda pra tocar no Cameramundo Film Festival, um festival de cinema Brasileiro, foi a primeira vez que eu toquei com um dos DJs que mais admiro, o Nuts, pra mim foi muito louco, foi uma experiência muito produtiva.
Você é DJ e grafiteiro também?
Não me vejo como grafiteiro, desenho desde cedo, sempre tive facilidade, paralelo a minha evolução como DJ, fui convidado pelo Chico pra fazer parte da Nação Crew (um dos grupos pioneiros do graffiti no RJ), dai pra aprender as técnicas do graffiti foi um pulo. Mas acho que ser grafiteiro é bem mais que isso, me considero alguém que desenvolveu as técnicas e se expressa através do graffiti. Do mesmo modo como também não acho que um cara que compra um equipamento e “bota” um som é DJ, ser DJ também é bem mais do que somente isso.
Você faz uma monte de coisas que transcende a profissão do DJ, como é isso?
Pois é, é algo do qual eu não tenho um controle, digamos assim (risos). Eu tenho uma necessidade e ao mesmo tempo uma atração em me envolver em projetos diferentes, com formas de expressão diferentes. Um dia desses eu estava vendo uma parada que o BNegão iria fazer com o Autoramas no Rock In Rio, daí fiquei imaginando como o Bernando é foda. Ele tinha o Juliette, depois o Funk Fuckers, Planet Hemp, na sequência o Seletores de Freqüência paralelamente fez parte do Turbo Trio, varias parcerias como com o Maga Bo, o próprio Autoramas entre vários outros. Ataca como DJ… toda hora você vê ele com artistas da MPB, com lendas como o Wilson das Neves, enfim, é um cara que se multiplica em vários. Você percebe que é um cara que tem fundamentos dentro do hip hop, é muito respeitado, mas não se limita só ao hip hop, como ele, eu também observo outros, como o Gustavo (Black Alien) e o Sabotage, e isso eu acho muito maneiro. Eu tenho uma inquietude, eu gosto de experimentar, talvez seria mais vantagem eu estar fazendo somente uma coisa, porque eu poderia produzir com mais foco, ser mais centrado, mas eu tenho uma fome de querer experimentar, fazer algo com o músico X, com Y, trabalhar com poesia, com audiovisual… porque experiências diferentes me atraem, a possibilidade de você fazer varias coisas, vir lapidando e depois somar toda essa bagagem ao seu trabalho, é algo motivador.
E depois que você saiu do país, mudou alguma coisa?
Sim, lógico. Se viagens que fazia para outros estados, como quando acompanhava o De Leve por exemplo, já ampliavam minha visão, imagine sair do país, conhecer outras pessoas, outro idioma, outra cultura. Posso até não saber explicar com palavras, mas com certeza muda algo sim. Como disse Einstein: “A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original”.
E sua relacão com os BBoys?
O primeiro evento grande que participei foi o Batendo de Frente, evento que o Jagal fazia. Foi a primeira vez que eu toquei num evento exclusivamente para B-Boys. Me lembro do Jagal me colocar como apresentador, pois me achava com esse potencial, mas eu era muito tímido e passei a bola pro Fon. Prefiro ficar atrás dos toca discos (risos).
Como foi?
Nessa época a galera que tocava pra BBoys tocava muito eletrofunk, mas também muito funky original, eu já pesquisava “funk soul brazuca”, aí eu ficava no receio de tocar alguma parada nessa linha, de não rolar uma aceitação, porque se tu virasse algo como Tim Maia, que era um Funky, mas tinha uma pegada de baião mesclado, nego olhava pra tua cara, tipo: “Porra toca James Brown!”.
E ele (Jagal) falava: – Irmão, independente de alguém gostar ou não, toca isso mesmo, o BBoy que tem que entender a música, perceber o groove e dançar. Ele foi muito importante pra mim e com certeza pra cultura do break.
Como era tua relação com o Jagal?
O Jagal é um cara que faz muita falta, era muito incentivador. Porque saía de Juiz de Fora, viajando vestido de cobrador, as vezes sete horas da manhã ele já estava sentado no meu portão, em frente a minha casa. Aí saía daqui e ia pro Centro encontrar com os patrocinadores, dali ia pra Prefeitura, depois voltava pra Juiz de Fora. No dia do evento estava aí de novo, não parava nunca. Ele movimentou muito a cultura hip hop no Rio de Janeiro. O contato com ele é uma parada que mudou minha vida completamente, a minha e a de muita gente, se você perguntar a uma galera da minha geração, metade tem ele como referência e até mesmo como ídolo.
O que você está fazendo atualmente?
Eu sou tipo aquele desenho da Lula Lelé (risos), mil tentáculos fazendo várias paradas ao mesmo tempo. Hoje estou trabalhando com o Vinícius (Terra) produzindo uma mixtape, e junto com ele montei uma banda que o acompanha nas apresentações ao vivo, estou ensaiando (também com uma banda) pra lançar o disco do Akira (Presidente) em novembro, tô fazendo meus bailes, tô produzindo beats, remixes, algumas trilhas e sempre pesquisando muito. Dia 28 de setembro toco novamente na The Groov, dessa vez vai ser um especial em homenagem ao Tupac, uma celebração ao que lhe influenciou e também aos que foram influenciados por ele. Enfim, o ritmo é frenético, não pára!
Todo DJ tem muitos equipamentos, mas sempre tem um brinquedinho da vez. Qual é o seu?
Atualmente tenho dedicado grande parte do meu tempo a produção musical, e a Maschine (Bateria Eletronica da Native Instruments, similar a MPC) tem sido minha companheira absoluta.
O que o você está ouvindo e indica pra quem está lendo esta entrevista?
Estou sempre escutando muita coisa diferente, mas se eu for listar aqueles que tenho ouvido repetidamente posso citar, Freddie Joachim, Gramatik, DJ Ride, Orelha Negra, e muito rap, funky/soul e musica brasileira. Os ouvidos tem que estar atentos o tempo todo.
Pra conferir alguns trabalhos do DJ Machintal, de um confere em:
www.djmachintal.wordpress.com
MaaaachintalLL!!! que entrevista boa meu parça, que vibe ótima – claro, o DMA foi só jogando as cartas boas!! rss …mas adorei essa de tocar pra poetas, e logo na primira linha que leio… bom, isso certamente me alimentou, felizão aqui! O B.Boy Vini Unha me chamou pra curtir essa Groov, tenho um trampo mas q acho rola… vamos ver! sucesso!
abraços a todxs, valeu Machintal, valeu DMA – brigadão pela entrevista!
Poeta Xandu
[Zine ØØ – B.Boy Press]