quinta-feira, 21 novembro, 2024
Colunista Dudu de Morro Agudo
Colunista Dudu de Morro Agudo

É um assalto PORRA!!!

Há três meses sofri um acidente com o meu carro. Um corsa preto, ano 2000. Até hoje o carro está na oficina para conserto. Diariamente recebo de brinde uma desculpa esfarrapada do lanterneiro. Sou proprietário de uma loja de auto-peças, onde fico todos os dias, durante o dia, inclusive aos domingos.

Me considero uma pessoa bem relacionada, conheço muita gente na cidade em que moro. Por isso, assim que bati com o meu carro, não fiquei muito tempo andando a pé, um dos meus amigos me emprestou um dos seus carros. Um Linea, azul, ano 2011 se não me engano.

Ontem fui jogar futebol. A noite estava quente, a lua bonita. Na volta para casa, por volta das 22 horas, deixei os vidros do carro abertos enquanto dirigia, para poder apreciar as ruas de Nova Iguaçu, cidade em que moro, e sentir o vento agradável da noite.

Não costumo parar nos sinais de transito após às 21 horas, mas como um carro que estava na minha frente parou, então resolvi parar também. Estava pensando em coisas sem nexo, quando dois rapazes, aparentando uns 17 anos no máximo, me abordaram e anunciaram o assalto.

Um deles portava um 38 cromado. Ele disse: – É um assalto PORRA!!! Me dá o rádio (Nextel), o relógio, o cordão, o dinheiro…

Eu pedi calma, comecei a pegar as coisas e então ele disse: – Sai do carro, sai do carro. Se essa porra tiver segredo você morre.

Enquanto ele tentava ligar o carro eu ia me afastando, andando de costas, sem desgrudar os olhos deles. O carro não pega se a embreagem estiver pressionada, mas como ele não sabia tentou umas três vezes até que conseguiu ligar o carro. Para meu espanto a rua estava cheia de gente. Ninguém fazia nada. O ladrão saiu com o carro cantando pneu, mas o carro morreu novamente 100 metros depois.

Ele ligou o carro e conseguiu ir embora.

Eu fiquei parado na rua, coloquei as mãos na cabeça, olhei para os lados tentando me orientar para poder ir para minha casa. Quando meus olhos conseguiram focar algo, vi que havia um carro parado ao meu lado, uma homem falava sem parar. Ele perguntava se eu fui assaltado. Respondi que sim. Então ele perguntou se eu queria uma carona até um posto de polícia. Respondi que sim novamente e entrei no carro que estava abarrotado de gente.

Acho que o camarada era pastor de igreja evangélico, ele dizia que Deus ia me dar outro carro, que o importante era que eu estava vivo. Eu estava desnorteado demais para prestar a atenção no que ele estava falando.  Ele dirigia bem devagar. Depois de uns cinco minutos de carona eu já não aguentava mais, pedi para ele parar em um ponto de ônibus, pois ali eu conseguia pegar um moto-taxi para ir para casa. Ele atendeu o meu pedido. Agradeci, desci e andei um pouco a frente, onde havia um cruzamento. Quem mora em Nova Iguaçu vai identificar bem, é no cruzamento da Via Light, perto do Top Shopping, onde tem uma cabine da polícia militar, que diga-se de passagem, fica abandonada.

Quando eu olhei para o lado, vi que o transito estava todo engarrafado, o sinal estava fechado e o meu carro lá (carro do meu amigo), recheado de bandidos, esperando o sinal abrir. Mais a frente, depois do cruzamento, havia um carro de polícia esperando o transito andar para poder ir embora. Não pensei duas vezes, corri, corri muito, passei pelos bandidos e bati desesperadamente na viatura pedindo ajuda. Os policiais me olharam e perguntaram o que estava acontecendo. Eu respondia que era assalto, que eu tinha sido assaltado e que os bandidos estavam do outro lado da rua. Eles continuavam me perguntando, até que eu disse: – É um assalto PORRA!!!

Pareceu que só assim a ficha deles caiu. Saíram do carro e ficaram olhando para o carro cheio de bandidos perguntando onde eles estavam. Eu apontava e os policiais “fingiam” que não estavam vendo. Mas os bandidos viram que tinha alguma coisa errada. Saíram do carro calmamente. Olharam pra minha cara e pra cara dos policiais durante alguns segundos.

Eu perguntei para os policiais se eles iriam ficar ali parados. Foi quando eles deram um grito. Como se quisessem avisar aos bandidos para eles fugirem. Ele podia ter dito: – Corre meliante, senão eu terei que te prender, mas eu tô com muito medo, então faz o favor de correr pra eu poder fingir que estou indo atrás.

Foi o que os bandidos fizeram. Não sei como, mas os dois moleques que me roubaram se multiplicaram, tipo Gremlins. Saíram quatro bandidos do carro e correram no meio do transito engarrafado.  Quando os policiais perceberam que não dava mais pra pegar, começaram a correr atrás dos moleques.

O que me restou foi pegar o carro e ir pra casa, feliz por estar com o carro (e não ter que pagar outro), mas puto pela qualidade da polícia militar desse estado.

 

Sobre Dudu de Morro Agudo

Rapper, educador popular, produtor cultural, escritor, mestre e doutorando em Educação (UFF). Dudu de Morro Agudo lançou os discos "Rolo Compressor" (2010) e "O Dever Me Chama" (2018); é autor do livro "Enraizados: Os Híbridos Glocais"; Diretor dos documentários "Mães do Hip Hop" (2010) e "O Custo da Oportunidade" (2017). Atualmente atua como diretor geral do Instituto Enraizados; CEO da Hulle Brasil; coordenador do Curso Popular Enraizados.

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