Olá amigos leitores de minha coluna semanal aqui no Portal Enraizados. Minha coluna de hoje é um longo texto, porém um dos mais importantes que já escrevi, entretanto não estou aqui para contar história triste, apenas pretendo com ele levá-lo(la) a uma reflexão.
Na última sexta-feira, dia 16 de maio de 2014, depois de um dia cheio de compromissos, incluindo trabalho e faculdade, cheguei em casa por volta das 23 horas. Minha única vontade era dormir, não tinha forças mais para nada.
Depois de tomar uma ducha revigorante, de água extremamente quente, me dirigi ao fogão para pegar meu prato de comida, mantido quente por ter sido colocado estrategicamente em “banho maria”. Jantei enquanto assistia TV e olhava esporadicamente as mensagens no smartphone, mas meu pensamento era somente me esticar na minha cama e descansar.
Pronto. Estava eu devidamente alimentado. TV desligada. Preparado para dormir. Quando o meu telefone toca. Desnorteado, sem saber onde procurar o aparelho, dou um pulo da cama já sabendo que a notícia não era boa, pois o toque diferenciado do telefone denunciava que era ligação da minha mãe.
Sim, era ela. Disse com voz firme: – Venha aqui em casa, pois seu pai não está bem.
Do mesmo jeito que eu estava, de short, sem blusas e descalço, corri em direção a casa dos meus pais. Lá chegando me deparei com uma das cenas mais fortes e tristes que vi na minha vida. Meu pai tendo uma convulsão. Eu e minha mãe visivelmente não sabíamos o que fazer. Ela disse que aquela era a segunda. Logo depois vieram outras seguidas.
Sabíamos que tínhamos que levá-lo para algum hospital, mas o hospital que ele está fazendo o tratamento só começa a atender às 07 horas da manhã, então pensamos em levá-lo para o Hospital Carlos Chagas, pois sempre ouvi e presenciei histórias muito ruins sobre o Hospital Geral de Nova Iguaçu, popularmente conhecido como Hospital da Posse.
Contudo, durante o desespero e o medo, o caso era mais do que urgente, decidimos pelo Hospital da Posse pela proximidade. Esse foi o meu (nosso) grande erro. Os fatos que vou relatar a partir de agora, foram vividos por mim , minha mãe e meu pai enfermo.
Quando meu pai passou mal em casa, era por volta das 00:00. Saímos de casa em no máximo 15 minutos e demoramos mais uns 15 para chegarmos até o hospital. Era uma noite com temperatura agradável, não estava nem muito frio e nem calor, talvez por isso algumas pessoas estavam do lado de fora do hospital conversando, alguns fumando.
Subi com o carro, desesperado, pois meu pai havia convulsionado mais algumas vezes dentro do carro, enquanto minha mãe tentava acalma-lo, eu acelerava. Com o carro ainda em movimento, abri a porta e corri pedindo ajuda. Um funcionário do Hospital da Posse disse para eu dar a ré no carro e descer até a primeira curva, pois aquele local era exclusivo para ambulâncias e carros de polícia.
Fiz como fui orientado. Desci até a primeira curva, saí do carro correndo novamente e pedindo ajuda.
Me assustou o fato de apesar daquele ser um setor de emergência, as pessoas não tinham pressa alguma, nada era urgente naquele local. Falei com uma mulher loira, muito bonita, arrumada, que estava conversando com um rapaz em um dos bancos do lado de fora da area de emergência. Ela deu ordem para o rapaz conseguir uma cadeira. Eu vi que ela representava algum chefia daquele local, então eu disse a ela que meu pai não tinha condições de ficar em uma cadeira, então ela pediu a um outro senhor, que acredito que seja maqueiro, para conseguir uma maca.
O tal maqueiro saiu em uma lentidão de dar desgosto. Eu olhei pra ele e percebi que aquele maqueiro não voltaria. Então comecei a falar bem mais alto, até que a loira foi em outro maqueiro e novamente pediu ajuda, somente por estar sendo pressionada por mim.
O novo maqueiro ao invés de buscar a maca, veio até o carro para olhar meu pai, como se ele fosse fazer algum tipo de exame, olhou, olhou e foi embora. Achei que ia buscar a maca, mas como depois de alguns minutos ele não apareceu e eu tive que novamente dar uns gritos. Palavras de ordem. Reclamações.
Então apareceu o maqueiro, mas sem a maca. O maqueiro trazia uma médica. Eu juro por Deus que ela perguntou o que minha mãe tinha. Então eu e minha mãe nos olhamos e balançamos a cabeça em sinal de reprovação. Alguma coisa muito estranha estava acontecendo naquele local.
Expliquei tudo novamente para a médica, enquanto meu pai tinha a décima segunda convulsão dentro do carro. Então a médica se convenceu que o caso do meu pai era realmente grave e deu a ordem para o maqueiro “buscar a maca”.
Meu pai foi levado para um corredor, pois haviam três pessoas no quarto e segundo a médica, não haviam mais vagas. Então ela começou a me explicar que o Hospital Geral de Nova Iguaçu não estava atendendo emergência e que as coisas estavam difíceis por ali. Ficamos eu e minha mãe em pé, no corredor, com meu pai na maca, enquanto alguns enfermeiros se revezavam para dar o medicamento. Soro e calmante presos na parede por um esparadrapo ao lado de um aviso de silêncio que parecia pedir segredo sobre a situação lastimável do hospital.
De uma até quatro horas, estávamos de pé no corredor. Eu ouvia algumas enfermeiras reclamando que haviam nove pacientes em um outro setor, mas não havia roupas para eles. Ela perguntava o que ia fazer. Ninguém respondia.
Quando era aproximadamente 04:30 da manhã, uma outra enfermeira passou por perto e então eu perguntei a ela se meu pai ficaria internado, se ele receberia alta, se tomaria mais medicamento, pois ele já havia despertado e estava muito agitado, não falava coisa com coisa e queria descer da maca a qualquer custo. Ela disse sem cerimônia: – Não sei, quem sabe é a médica. O que posso fazer é te levar pra sala das cadeiras azuis, pois lá vocês podem descansar um pouco.
Fomos pra tal sala e ficamos até às 08 horas da manhã sem nenhum tipo de orientação.
Eu saía e entrava no hospital sem ser questionado por ninguém. Fui algumas vezes do lado de fora para comprar biscoito e água para minha mãe. Em uma dessas saídas vi um ônibus da Nilopolitana parando lá na rua, parecia que o ônibus só foi lá para levar uma mulher que estava com o pé aparentemente quebrado. No mesmo momento apareceu uma enfermeira – ou médica – do hospital correndo pelo corredor externo, e falando com voz não muito alta para o senhor que empurrava a cadeira da mulher, tentando subir aquela enorme rampa/rua do hospital, que o hospital não estava atendendo emergência, que era para ele levá-la para o hospital em Belford Roxo. Ví o desespero no rosto de ambos, mulher de pé quebrado e o cara que empurrava a cadeira.
Na troca do plantão, vi muitas enfermeiras chegando. Uma falação desrespeitosa com os pacientes e acompanhantes que ali estavam. Uma delas, uma negra com cerca de 40 anos e uns 1,60 de altura, dizia em voz alta: – Veja isso, não tem ninguém aqui, mas ontem inaugurou a ala infantil, daqui a pouco isso vira um inferno de tanto choro de criança.
Abordei uma outra enfermeira no corredor. Perguntei quando a médica iria atender meu pai. Foi quando ouvi: – Meu filho, se você não for atrás da médica, ela não vai vir aqui te ver não. Ela nem sabe que você tá aqui. Chama ela naquela sala ali. A número dois.
Fui falar com a médica. Antes de eu falar, ela já me reprovou com o olhar. Então tive que engrossar a voz, olhar nos olhos dela e fazer minhas perguntas. O que meu pai tem? Ele vai ser internado? Vai ser medicado? Vai fazer algum exame? Vai ter alta? Preciso de respostas, pois se for pra eu cuidar dele, prefiro levá-lo pra casa.
A médica me disse que não podia fazer nada enquanto a enfermeira não levasse o prontuário dele para ela verificar. Então fui até a sala das enfermeiras, que ficava quase em frente a sala da médica. Quando cheguei na sala das enfermeiras elas riam, gargalhavam, acredito que falavam de algo muito engraçado, não estavam nem aí para o trabalho. Tanto que quando eu entrei na sala, elas nem perceberam e continuaram as brincadeiras. Tive que interrompe-las e dizer que a médica estava pedindo o prontuário do meu pai. Uma das enfermeiras me olhou, com o mesmo olhar de reprovação da médica e me perguntou o nome do meu pai. Eu disse o nome então ela disse que a médica que tinha que ir lá buscar o prontuário. Pra agilizar o processo eu perguntei se eu poderia levar documento para a médica. A enfermeira “docilmente” permitiu.
Era uma folha A4 com manuscritos que eu nunca conseguiria desvendar, creio que a médica olhou, olhou, olhou e também não entendeu nada e veio perguntar pra mim e para minha mãe o que meu pai tinha antes de chegar ao Hospital da Posse. Explicamos tudo novamente e então ela disse que ali não poderiam fazer mais nada. Foi quando pedi para transferirem ele para o hospital Mario Kroef, na Penha, onde ele já estava se tratando.
A médica disse que eu teria que procurar a Assistente Social, em algum lugar do hospital – que ela não sabia explicar onde – e explicar toda a história novamente pra ela, pra ela fazer um pedido pra sabe-se lá quem, para talvez nós conseguirmos a transferência em uma ambulância.
Mas eu creio que até isso tudo se resolver meu pai já estaria morto.
Então perguntei minha mãe se ela estava disposta a fazer a transferência do meu pai comigo, na marra. Minha mãe, guerreira como sempre, aceitou mais messe desafio. Chamamos uma enfermeira e pedimos uma frauda geriatrica para meu pai, ela disse que não tinha, então tive que ir na farmácia em frente ao hospital comprar.
Na volta pedi a médica para chamar um maqueiro para me ajudar a tirar meu pai dali. Ela disse que tinha que ver com outra pessoa, blá, blá, blá.
Resumindo: Eu mesmo peguei uma maca, coloquei meu pai em cima, colocamos ele no carro e fomos para o hospital Mario Kroef, na Penha. O tratamento mudou desde a portaria. Na recepção. A médica.
A médica do Mário Koref, só de olhar para meu pai, disse que provavelmente meu pai tinha tido um AVC, mas que era para nós ficarmos tranquilos que já estava tudo sob controle, ela iria tomar as providências cabíveis e que eu e minha mãe podíamos finalmente descansar.
Eram 13:00 horas de sábado quando eu e minha mãe voltamos pra casa para finalmente conseguirmos dormir, sabendo que meu pai estava em boas mãos.
CONCLUSÃO? Tire as suas e coloque nos comentários.
E depois ainda vem o gorducho do Roaldo falar que não se faz copa com hospitais, para justificar a falta de hospitais no bRASIL. Se eu tivesse algum tipo de super poder, enternaria ele no Hospital da Posse na mesma enfermaria que a minha avó faleceu, depois de passar mais umas duas semanas no corredor junto com mais uma multidão de desassistidos.
Que se dane a Copa, o futebol com os seus jogadores e todos os revolucionários que se doam de manada pelas lamúrias da mídia. Eu quero é hospital decente, governante dígno e um país de verdade que não se escarnece da gente por toda a nossa vida, mas que ainda obriga os nossos filhos a “servirem a pátria”, a mesma pátria que cospe em nós e que nos trata como lixo descartável.
Hoje eu também fiz uma pequena peregrinação em busca de um atendimento médico pra minha esposa, é lastimável que quando se mora na Baixada Fluminense pagamos mais caro por tratamentos, produtos e serviços de péssimas qualidades.
Precisamos re-inventar essa merda toda.
Estimo melhoras pro meu tio Guilherme.
Um grande abraço mano.
É Dumontt, a gente quase sempre se encontra nessa situação de depender da saúde pública na nossa região e nos depararmos com o descaso.
Mas eu prometo que isso vai mudar, tem que mudar.
O pior é que em um famoso hospital particular no centro de Nova Iguaçu, o atendimento p/ quem tem plano de saúde é “menos pior” que no HGNI.
Pessoas que podem pagar em dinheiro tem prioridade.
Junior, a mudança está em nossas mãos. Vamos pra cima, tudo juntos e enraizados.
Triste realidade de um Hospital que tinha tudo para dar certo,
Bem…..no meu caso foi tudo diferente. fiz uma cirurgia no hospital. da posse e dou nota10.sem palavras para expressar tão bom atendimento. só tenho que agradecer a todos os profissionais que mim atenderam desde a minha internação até minha saída .bjs a todos!