quinta-feira, 7 novembro, 2024

Nas pick-ups, com Fábio ACM

Ele é DJ da banda de rapcore Antizona, coordenador de projetos na Rede de Desenvolvimento Humano (Redeh), além de ser grande amigo e membro da Rede Enraizados. Juntamente com a Banda Antizona, esteve duas vezes em Cuba, onde teve contato com o cenário underground do Hip-Hop Cubano, e já publicou uma matéria aqui no Portal Enraizados falando sobre a primeira viagem. Confira a entrevista com o DJ Fábio ACM:

Marcão: Então Fábio, como foi o início da sua carreira de DJ?
Fábio: Influência direta do meu tio, Ricardo Pereira, que foi dono da Status Disco Dance, equipe de som que comandou os bailes funk da Rocinha até 1989. Eu comprava muitos LPs de Rock e MPB ao invés de ficar jogando bola e soltando pipa como os moleques lá do Lins. Ouvia muito os discos do meu pai, desde Beatles à Bossa Nova. O Ricardo meio que se incomodava com isso, ver seu sobrinho de 9 anos escutando BR-Rock anos 80, Chico Buarque e Originais do Samba. Daí o cara começou a botar aquela pilha de DJ da antiga. Quem tá ligado, sabe!

E o primeiro disco que ele me deu foi uma coletânea de Miami Bass que saiu em 1988. Nesse disco tinham músicas do 2 Live Crew, Gucci Crew, MC ADE… Conheci o Hip Hop assim, pelo Miami Bass. Dessa época vieram os rasteiros (as instrumentais de RAP que tocavam nos bailes do RJ). Até hoje eu tenho Original Concept, Fat Boys, Rodney O & Joe Cooley, The D.O.C. (projeto do Dr.Dre) e outras pérolas que custavam $10 dólares na mão dos DJs que vendiam discos no antigo malódromo no Largo da Carioca. Somente em 1993 eu consegui comprar meu primeiro par de toca-discos. Eram duas CCE TX-250 e um mixer AP-1. Vai vendo! A parada era pré-histórica, mas me deu a base para a mixagem e os scratchs. As MKs só vieram em 1994. Montei uma equipe de som com alguns amigos para fazer festinhas, mas durou pouco tempo. Nessa época eu tocava em festas de rua na ZN, fazia participações em bailes funk, como na equipe Live. Nessa última foram dois bailes: uma abertura tocando funk-melody no CCIP de Pilares e um baile no Clube dos Aliados em Campo Grande, Zona Oeste do RJ. Mas cheguei tarde. O baile já estava dominado pelos MDs e qualquer maluco virava DJ de equipe. Não tinha mais espaço para os vinys. Você poderia curtir um baile do DJ Adriano da LIVE 1 tocando com os vinys, mas era raro. O baile funk de vinyl era uma raridade neste período das montagens de funk. Somente em 1997 que eu conheci os Poetas de Ébano (grupo de RAP da Zona Norte do Rio, formado por BJ, Sancho e KMKZ), o ANTIZONA (banda que eu toco até hoje como DJ) e as rádios comunitárias. Neste mesmo período nasce a ZN Máfia, onde conheci muitos amigos como MR Bocca, DJ Machintal, Nação Crew, entre outros grandes artistas.


Já escutei alguns dos seus sets, e percebi uma diversidade muito grande de gêneros musicais, quais são suas influências?
Tudo. Desde música brasileira, soul, funk, hip-hop ao rock e metal.

ZN MáfiaComo é ser DJ no Rio de Janeiro?
Precisa de muita correria para criar seu próprio espaço, como qualquer outro artista brasileiro. Não há estímulo para a profissão. Os equipamentos são muito caros e continuarão sendo. As MKs, mixers e time-codes são absurdamente caros, mas isso é no mundo inteiro. Para ser DJ antes de tudo, você precisa fazer um bom investimento. E o dim dim vai embora. Poderia ser pior, se o repertório não estivesse na internet. Nos anos 90, um vinyl custava entre 10 e 15 dólares. Vai vendo!
Alguns DJs chegam de pára-quedas e muitas das vezes têm mais visibilidade que outros, mas creio que isso se deve a correria que o mano faz. Tem DJ que fica acomodado e só reclama. Acha que o baile vai cair do céu. Não dá pra ser assim numa cidade que tem poucas casas noturnas e DJ pra caralho brotando por aí. O RJ tem muitos DJ`s bons. Gente que faz história no cenário eletrônico, Hip-Hop, rock, alternativo e MPB. Não critico os DJs que não fazem performances, mas o Hip-Hop pode ser muito cruel neste setor.

Como foi sua integração na banda de rapcore Antizona?
O ANTIZONA se formou em novembro de 1996. Neste mesmo dia haviam duas festas no Méier: uma delas era a uma que eu produzia chamada Virou Bagunça (que deu origem a um programa de rádio) e na outra festa estavam presentes o embrião do que seria o AZ. No ano seguinte eu entrevistei os caras no meu programa de rádio e o Fabinho, guitarra do AZ, me convidou para um ensaio. Nessa época eu já tocava com uma outra banda da ZN, a Black Powa. Estou junto com o AZ desde 1997.

O acesso à música e aos meios de produção e divulgação se tornou mais fácil, através da internet. Isso auxiliou a divulgação do seu trabalho como DJ?
A internet ajuda em todos os setores da música. Especialmente aos DJs, que se adaptaram muito bem a esta tecnologia. Tenho e-mail desde o fim dos anos 90 e já me conectava com pessoas de outros cantos do Brasil. Hoje pela internet, você pode comprar os discos que você sempre sonhou ter em lojas especializadas para DJs. Há lojas no mundo inteiro e os discos chegam na sua casa. Se falarmos de divulgação, não há cenário melhor do que o atual e a culpada disso são as redes sociais que dão muita visibilidade ao seu trabalho.

Confira um dos remixes do DJ Fábio ACM:
[soundcloud width=”100%” height=”81″ params=”” url=”http://api.soundcloud.com/tracks/11811759″] Dr.Dre VS Antizona – Still D.R.E. feat Snoop Dogg (Remixed by DJ Fábio ACM) by fabioacm

Você também trabalha na Redeh (Rede de Desenvolvimento Humano), onde coordenou o projeto das coletâneas: “Hip Hop na Linha de Frente Contra o Tabaco”, “Hip Hop Mandando Fechado em Saúde e Sexualidade”, e “Hip Hop pelo Fim da Violência Contra as Mulheres”, fale um pouco sobre esses trabalhos…
Conheci as ONG`s em 2000. Vi que lá era possível desenvolver projetos que há tempos estavam martelando minha cabeça. Durante o nascimento da ZN Máfia, houve diversas reuniões e lá surgiram muitas idéias que infelizmente não conseguimos realizar, mas como tudo tem seu tempo e não devemos ultrapassar as etapas, somente anos depois vieram os projetos. A idéia central é convidar MCs para desenvolver letras em cima de um tema social, fabricar os discos e distribuir para escolas e organizações. Somar um grande instrumento de comunicação (RAP) com educação. Os temas geralmente têm um apelo educacional muito forte, como prevenção a violência contra mulheres e promoção de uma saúde sexual e reprodutiva de jovens.

Juntamente com a banda ANTIZONA, o MC Slow da BF e a cantora Lica Tito, você foi à Havana, em Cuba, onde teve contato com o Hip Hop cubano, e dirigiu um videoclipe da Antizona, como foi essa experiência?
Em 2010, fomos todos convidados para o Rotilla, um festival que acontece a 12 anos, em Cuba. Sua melhor característica é ser produzido de forma independente, isto é, sem apoio do governo cubano. A produtora do evento se chama Matraka. Tocamos para cerca de 20 mil pessoas no mesmo palco dos Los Aldeanos.
Aproveitamos o belíssimo cenário da capital cubana para gravar cenas do clip da música “Siga os Seus Passos”. Neste mesmo período em CUBA, surgiu a idéia de conhecermos um outro evento produzido pelos Matrakas, o Puños Arriba.

Se você não seguisse a carreira de DJ, qual seguiria?
Seria um jornalista! (Risos)

Quais são os projetos para 2011?
Lançar o segundo disco do ANTIZONA e fazer mais shows pelo Brasil. Às vezes penso que é mais fácil tocar fora do Brasil do que aqui dentro. Espero que isso mude logo.

Na última semana, a banda Antizona novamente foi à Cuba, convidada à participar da premiação de Hip Hop Puños Arriba 2011, também em Havana, como foi visitar Cuba novamente?
Foi a consolidação de um sonho. Conhecer o underground do Hip-Hop cubano foi algo muito especial para nós. Os Matrakas, produtores do Puños Arriba são guerreiros e guerreiras, que apesar da censura e perseguições, conseguem produzir grandes eventos na ilha.
Aproveitamos para gravar uma música, a “Ponha A Mão Pra Cima” no principal estúdio de Hip hop underground de Cuba, o REAL 70, criado por um jovem de muito talento chamado Papá Humbertico. O mesmo estúdio que gravou os Los Aldeanos, Anônimo Consejo, Esquadrón Patriota, Quantas Claras, Silvito El Libre, Danay, Mano Armada e outros artistas que passei a admirar pela música, letras e principalmente pela coragem em dizer a verdade que acontece nas ruas.
Dias antes do Puños Arriba 2011, o ANTIZONA fez um show na cidade de Holguín, em um evento chamado Romerias de Maio, produzido pela Associación Hermano Saiz.

Fábio, muito obrigado pela entrevista, gostaria que deixasse uma mensagem aos leitores do Portal Enraizados…
Amigos e amigas, a minha mensagem pode parecer utópica, óbvia, mas acredito que o Hip-Hop é um só, e também muitos ao mesmo tempo. A cultura Hip-Hop, tanto no Brasil quanto em Cuba, sobrevive nesta aldeia global. Mesmo com as censuras e tiranias de governos espalhados pelo mundo, somos um só. Apesar das adversidades, idiomas diferentes, partidos, somos um só. One Love!
“No Pares!”
Saiba mais sobre o trabalho do DJ Fábio ACM:
http://www.bandaantizona.com/
http://www.myspace.com/djfabioacm
http://soundcloud.com/fabioacm

Sobre Marcão Baixada

Rapper, compositor e produtor | Gestor de Conteúdo | Consultor de Comunicação e Plataformas

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5 comentários

  1. E aê Fabião ACM e Marcão, parabéns a ambos.
    Nada como uma boa entrevista para que nós possamos conhecer um pouco mais os nossos amigos de quase uma década.
    Tâmo Junto e Enraizados!!

  2. Valeeeeu Marcão!
    Valeeeu Dudú!

    Tâmo junto!!!!!!!

    Abraços a todos Enraizados!!!!

  3. Parabéns pela entrevista!!!
    Valeu ACM e a todos que participaram!
    Fabinho Teixeira (guitarra ANTIZONA).
    Enraizados é classe A!!!
    Abs!

  4. Muito bom ouvir histórias de quem as faz! Parabéns!
    Valeu Enrraizados! Valeu ACM!
    Bjs

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