quinta-feira, 21 novembro, 2024

Quase perdi a mulher por causa de uma maminha

Olá leitores e leitoras da minha coluna semanal. Apesar de o título ter um certo duplo sentido, vou direto ao assunto: – Quem nunca sofreu por falta de profissionalismo alheio?

Dizem por aí que existe mal profissional em todas as áreas. Desde o mecânico de fundo de quintal até o astronauta da Nasa. Desde o pedreiro pé de chinelo até os engenheiros civis.

Eu fui vítima de um mal profissional hoje, dia 18 de agosto de 2014.

Quem é casado ou tem um relacionamento estável sabe o quanto é complicado quando nossas digníssimas esposas – ou namoradas – nos mandam ir à rua comprar algo, por mais simples que seja a gente sempre compra errado, o que dá início a uma discussão sem fim. Mesmo que você se esforce, você vai comprar errado. Se você compra um sabonete, pode acertar a marca, mas erra o cheirinho e por aí vai.

A solução é encontrar um local com profissionais em quem você confia. Daí chega no local, pede o que quer, o profissional faz o trabalho e você leva a mercadoria pra casa.

Foi assim durante cinco anos nas Casas Prendas, em Morro Agudo.

Eu deixava de ir aos Hipermercados mais chiques para comprar ali, no mercadinho próximo de casa, porque ali haviam profissionais que me auxiliaram durante esses cinco longos anos.

Porém hoje, quando minha digníssima pediu pra eu comprar 01 kg de alcatra para nós almoçarmos, fui vítima do mais cruel dos profissionais, “o açougueiro”.

Como de costume, entrei no mercado e fui direto ao açougue, mas havia um senhor que eu nunca tinha visto. Um senhor de baixa estatura e com aparência ranzinza. Pedi um quilo de alcatra e ele prontamente passou a faca em uma carne que já estava em cima do balcão, lascando bifes e mais bifes e jogando em um saco plástico.

Eu, como não sou conhecedor de carne, só observava o mau humor daquele homem, até quando ele foi pesar a carne e deu 1,5 kg. Como eu só tinha dinheiro para comprar 01 kg, pedi “educadamente” para ele me vender um quilo, pois eu não tinha dinheiro o suficiente para pagar 1,5 kg.

Parecia que eu havia xingado a mãe dele. Ele metia a mão no saco plástico e puxava as carnes e jogava no balcão novamente, até que o peso ficou em 800 gramas. Ele apertou os botões da balança até sair a notinha adesiva, colou no saco plástico, olhou no fundo dos meus olhos e perguntou: – Tá bom 800 gramas?

Eu, em resposta ao mau humor do profissional, lancei um sorriso e disse: – Apesar de eu ter pedido 01kg, vou levar esses 800 gramas.

Peguei minha carne, passei no sacolão para comprar uns legumes e verduras e depois parti para casa, ciente que tinha feito um bom trabalho.

Porém, para meu espanto, assim que eu cheguei em casa e abri o saco da carne, minha digníssima ao bater os olhos na carne, fez aquela cara, como quem diz: – Você fez merda novamente.

Eu, que já conheço a feição, perguntei se aquela carne não era alcatra. Ela disse que não. Inclusive disse que aquela era a maminha da alcatra, que para churrasco ela até serve, porém para frigideira a carne fica um pouco dura. Cirurgicamente me explicou a diferença entre a Alcatra e a Maminha da Alcatra, fazendo movimentos no ar com as mãos.

Ela olhou nos meus olhos e eu entendi o recado. Deveria voltar ao mercado para tirar uma satisfação com o açougueiro. Sim, aquele profissional mau humorado.

Peguei o carro e fui ao mercadinho. Parei o carro na calçada para que todos no mercado vissem eu chegando. Fui direto ao gerente e disse: – Sr, por favor me responda que carne é essa?

Gerente: – Infelizmente eu não sou conhecedor de carne.

Eu: Pelo jeito, nem o seu açougueiro.

Gerente: – Vamos até o açougue para resolvermos isso. O açougueiro pode ter se enganado. Errar é humano.

Fomos eu e o gerente até o açougue. Antes de chegarmos, o açougueiro já havia nos avistado. Viu o saco de carne nas mãos do gerente e conseguiu fazer uma cara mais feia do que a de costume. Eu, por minha vez, já não estava tão sociável como antes. O embate era inevitável.

O diálogo triangular que se deu a partir daí foi:

Gerente: – Que carne é essa?

Açougueiro: – Alcatra.

Eu: – Realmente o seu açougueiro não conhece carne.

Açougueiro: – Sr, você é o cliente, mas eu sou o profissional.

Eu: – Então quem tem razão?

Gerente: – Calma gente.

Eu: – Se você é profissional mesmo, então me diz que carne é essa?

Açougueiro: – Maminha da Alcatra.

Eu: – Ahhhhhhhhhhhhhhh!!! E o que eu te pedi?

Açougueiro: – Alcatra. Mas a maminha vem junto, por isso a gente sempre serve esta parte primeiro. O que o senhor quer que eu faça com a maminha?

Eu: – Eu não acredito que o Sr está me fazendo essa pergunta no meio de uma discussão. Mas se o Sr insistir eu vou lhe dizer onde o Sr poderá enfiar a maminha.

Gerente: – Calma gente.

Eu: – Vocês acabam de perder um cliente fiel à cinco anos, simplesmente por querer me enfiar uma maminha goela abaixo.

Gerente lança um olhar para o açougueiro, que faz cara de… sei lá o que.

Eu continuo: – Se eu pedi Alcatra, me venda Alcatra e me cobre Alcatra. Se sobrar a Maminha de Alcatra, venda Maminha e cobre pela Maminha.

Gerente: – Atenda esse senhor, sirva-lhe Alcatra.

Açougueiro: (Resmungou coisas sem sentido, ou com sentido, mas eu não ouvi).

Açougueiro 02: – Deixa eu que sirvo cliente.

Eu: – Vocês quase acabaram com o meu relacionamento. Espero que me sirvam uma carne de qualidade dessa vez, para eu poder me desculpar com minha digníssima.

Levei pra casa 01 kg, redondo, da mais bela Alcatra que havia nas Casas Prendas. Fiz o meu papel de “macho” e resolvi o problema. Cheguei em casa e ouvi minha digníssima me elogiar, dizendo que enfim eu havia feito um bom trabalho.


 

CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Sobre Dudu de Morro Agudo

Rapper, educador popular, produtor cultural, escritor, mestre e doutorando em Educação (UFF). Dudu de Morro Agudo lançou os discos "Rolo Compressor" (2010) e "O Dever Me Chama" (2018); é autor do livro "Enraizados: Os Híbridos Glocais"; Diretor dos documentários "Mães do Hip Hop" (2010) e "O Custo da Oportunidade" (2017). Atualmente atua como diretor geral do Instituto Enraizados; CEO da Hulle Brasil; coordenador do Curso Popular Enraizados.

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2 comentários

  1. Caraca Dudu, lendo a sua coluna até eu fiquei com raiva do açougueiro.

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