Conheci o hip hop ainda menino, com 14 anos de idade, naquela época as coisas eram bem diferentes dos dias atuais.
Naquela época o que estava na moda o que eu chamo de “hip hop social”, onde os grupos de rap se uniam aos grafiteiros, que por sua vez se uniam aos BBoys que eram unidos com os DJs, juntos faziam festas nas comunidades, alegravam as crianças ao mesmo tempo em que criticavam o governo. Basicamente isso.
Gravar disco era muito difícil. Todos se comunicavam por fanzines que circulavam pelo Brasil através de carta social que custava um centavo o envio.
Naquela época grupo de rap não ia na televisão. Não podia [mas não sei o porque]. Todo mundo sabia quem era Zumbi dos Palmares, Nelson Mandela, Malcolm X e Martin Luther King Jr.
Existia uma “pseudotreta eterna” entre Rio de Janeiro e São Paulo, mas eu nunca senti isso, pois sempre fui – e sou – bem tratado na terra da garoa. Também existia uma “pseudotreta eterna” entre as várias regiões e zonas do Rio de Janeiro, mas eu circulava pra tudo que é lado e os caras sempre me trataram bem. Eu fazia show todo final de semana em São Gonçalo, Lapa, Maricá, Barra do Piraí, Resende […] e depois voltava para tocar na BF e os caras vinham pra cá também.
Lembro de uma vez que toquei num evento do DMT, acho que há mais de dez anos atrás, na Via Light, e as atrações éramos eu e o Marechal.
O hip hop passou por uma metamorfose nesses últimos 20 anos, não estou aqui para dizer se essa transformação foi boa ou ruim, só sei que surfei nessa onda e continuei fazendo meu som e realizando meus projetos da mesma maneira e com a mesma paixão do início.
Confesso que achei que atualmente não existiam muitos apaixonados pelo “hip hop social”, mas depois do último sábado, tenho que tirar o chapéu para os meus manos que se despencaram de diversas partes do Rio de Janeiro para o Jardim Nova Era, em Nova Iguaçu, pra proporcionar um dia de entretenimento para os jovens da comunidade através de uma intervenção de hip hop.
E também vejo um longo futuro neste tipo de hip hop por causa dos caras de uma geração mais nova, que estão cheios de gás, circulando, fazendo arte e produzindo muito, contribuindo para o crescimento da nossa cultura…
… é uma “nova era”, mas ainda é como antigamente.