No dia 22 de outubro minha time line do facebook ficou movimentada por conta do programa Profissão Repórter que foi veiculado no último dia 21 de outubro, na Rede Globo, onde o tema era o sempre polêmico Rap.
Muitas mensagens de protesto foram postadas contra o programa, porém também foram postadas muitas outras mensagens de apoio ao rap, que está cada vez mais presente nas telinhas.
Mas uma pergunta não quer calar:
– Será que o povo do rap dá o devido valor às conquistas que o movimento tem nos grandes meios de comunicação?
Já vi e ouvi críticas ferrenhas ao Programa Esquenta, da Regina Casé, que abriu as portas não só para o rap, mas para toda uma estética totalmente diferente do perfil da emissora. Lembro que no programa já se apresentaram Edi Rock – o que causou um mau estar no fãs do Racionais – e o Emicida algumas vezes.
Em São Paulo tem o Manos e Minas, na TV Cultura, no ar desde 2008, apresentado atualmente pelo MC Max BO, mas que já teve os rappers Rappin Hood e Thaíde no comando. Centenas de MCs já passaram pelo programa, que teve seu fim decretado em 2010, mas devido a muitos protestos nas redes sociais o programa retornou e continua firme até hoje, acompanhando a produção atual da música urbana em suas várias vertentes (rap, funk, soul, reggae, samba, MPB), além de mostrar iniciativas e realizações da cultura de periferia e hip-hop em seus diversos segmentos.
Pioneiro do hip hop no Brasil,Thaíde, que hoje faz sucesso no programa A Liga, da Band, já é um veterano das telinhas, começando na MTV, apresentando o programa “Yo! MTV Raps” e propagando o videoclipe de milhares de grupos do país.
Não posso deixar de citar o MV Bill e a Nega Gizza, com o importante programa Aglomerado, na TV Brasil.
Lembro-me que o Emicida também atuou como repórter do programa Manos e Minas, e o escritor Alessandro Buzo iniciou o seu quadro Buzão Circular Periférico dentro do mesmo programa e por lá ficou durante 03 anos até ser contratado pela Rede Globo, para apresentar um quadro sobre cultura de periferia, o SP Cultura.
Durante os últimos 03 anos, todos os sábados, foi ao ar no SP Cultura alguma iniciativa cultural da periferia de São Paulo e o rap e o hip hop quase sempre estiveram presentes, com seus artistas e toda a sua complexidade. Alessandro Buzo comandava essas visitas com maestria e bom senso, gerando oportunidades e atendendo a todos, na maioria “anônimos”, o que sempre o diferenciou, por exemplo, de programas como o Esquenta, onde o valor maior está entre os já consagrados e famosos.
Há cerca de um mês o quadro saiu do ar. Ninguém sabe se volta ou não. Mas o que realmente me impressionou é que NÃO VI NAS REDES SOCIAIS UM MOVIMENTO #FicaSPCultura, como aconteceu no Manos e Minas.
Algumas pessoas dizem que são contra a Rede Globo e contra o rap na TV, acredito que temos que respeitar os que tem essa opinião.
Mas e os que não são contra? E os que se beneficiaram com os quase 150 quadros que foram ao ar? E as centenas de artistas, de iniciativas, de projetos e de comunidades que ganharam visibilidade justamente porque o quadro era em uma emissora do porte da Rede Globo? Porque esses não iniciaram esse movimento #FicaSPCultura?
Eu, apesar de não morar em São Paulo, assim como muitas outras pessoas pelo Brasil, assisti pela internet cada um dos 147 quadros que foram ao ar e por causa deles aprendi muito sobre a cultura da periferia de São Paulo e seus fazedores. Fico orgulhoso por um cara da periferia e com representatividade dentro do movimento ser o apresentador. Seria um sonho ter um programa parecido aqui no Rio de Janeiro, seria um avanço para periferia, uma grande oportunidade para o hip hop.
Mas e aí, vamos deixar escorrer por nosso dedos um dos canais mais importantes para o hip hop paulista e brasileiro?
Já pararam pra pensar quem realmente ganha quando o rap não está na TV?
SAIBA MAIS:
[yframe url=’https://www.youtube.com/watch?v=-7qIo_aGxWQ’] Veja aqui alguns quadros do SP Cultura com Alessandro Buzo
Muito maneira a ideia.
Confesso que esse assunto é polêmico. Sim, é necessário realizar uma apropriação desses mecanismo para disseminar, mas quando esse mesmo sistema de consumo se apropria da cultura periférica e muda o sentido dela? Um abraço e parabéns pelo trabalho!