Em meio a tantas modinhas que vem tomando conta, principalmente da periferia, existe um movimento, que vem na contramão de tudo isso, que veio galgando seu lugar pouco a pouco, mas sem querer estardalhaço ou arrastar multidões.
Foi de forma progressiva e consistente, ganhando espaço e se consolidando. Eu falo da manifestação literária denominada de: Sarau.
Muito utilizado na década de 80 por jovens que protestavam contra a realidade vigente, os saraus reuniam, artistas, professores, pensadores, pesquisadores, religiosos, teólogos, militantes políticos, e todos demonstravam suas idéias e angústias e alegrias, que eram compartilhadas por todos, se manifestando de várias formas diferentes.
Muitos diretores, músicos, poetas e autores teatrais, passaram por esses movimentos, que durante muito tempo resistiu, entrou nas instituições de ensino, conseguiu uma certa exposição, mas com o passar dos anos foi migrando para grupos menores, cada um com seu tipo de arte específica, mas deixou de ter a força que tinha, e ficou nas sombras por um bom tempo.
Até que novamente, com as novas ferramentas e com o clamor dos poetas e dos fazedores da cultura, a juventude e outras gerações, estão delimitando um espaço que é seu, afinal as novas gerações precisam e muito ter contato com essas manifestações.
Aqui na Baixada Fluminense existem várias atividades acontecendo e ganhando fôlego, então esses saraus reúnem o que há de novo no cenário, mas traz também uma galera que produz arte e não tinha espaços e oportunidades de se mostrar.
Uma dessas experiências, é o Sarau Poetas Compulsivos, fomentada pelo rapper Dudu de Morro Agudo e o Movimento enraizados, que acabou se tornando mais um ponto de encontro de vários realizadores com estilos e vivências diferentes, e se tornou uma grata surpresa devido a mobilização que se criou de forma espontânea, tanto que hoje quando falamos no Sarau, agregamos todos que querem se apresentar, dando espaço para os da cidade e também os de fora, realizando um intercâmbio muito mais amplo e enriquecedor.
Estamos em processo de formação de platéia, que para nós, quanto mais miscigenado melhor, e temos espaço para todos que querem se apresentar, ou apenas fazer parte de alguma forma, seja escrevendo a respeito, postando nas redes sociais, tirando fotos ou prestigiando os eventos. Essa iniciativa se tornou um point onde os artistas trocam materiais, experiências e compartilham suas idéias de forma plena e sem censura.
Esse, como tanto outros, são movimentos que precisam se consolidar e fazer parte de nosso calendário cultural, afinal o principal nós temos, que são os produtos, só falta agora as parcerias, principalmente com o poder público, para que isso se espalhe e ganhe mais força ainda.
Várias gerações e artistas já passaram pelo sarau, mas esses espontâneos movimentos de resistência ainda não possuem o respeito que merecem, vamos fazer valer o que temos assegurado pela constituição, liberdade e poder de escolha.