quinta-feira, 7 novembro, 2024

Serial Killer é o símbolo do descaso do Estado contra a Baixada Fluminense

O que você fez nos últimos 09 anos? Sailson José das Graças matou 43 pessoas.

Será que se aos 17 anos ele cometesse o primeiro assassinato no Leblon (área nobre do Rio de Janeiro), chegaria a essa marca de 43 assassinatos sem ser preso? A resposta é… NÃO!!! CLARO QUE NÃO!!!

Porque certamente a imprensa cairia em cima, o Governador colocaria toda a polícia do Rio de Janeiro para investigar, invadir, torturar e matar até achar o assassino, mas na Baixada não é bem assim, a realidade aqui é outra. As mortes de conta-gotas não chamam atenção, uma morte aqui e outra lá são apenas mortes do cotidiano, a vida aqui vale menos, pra não dizer que não vale nada.

Atualmente a região da Baixada Fluminense se encontra mais violenta do que a cidade colombiana de Medelin, que foi classificada pela revista Time, em 1988, como “a cidade mais violenta do mundo”, com uma taxa de 440 homicídios por 100 mil habitantes. Hoje em dia Medelin exibe a marca de 40 homicídios por 100 mil habitantes, uma taxa bastante alta se comparada com a média mundial de 10 homicídios para cada 100 mil habitantes, contudo bem menor do que a taxa de 52 homicídios por 100 mil habitantes da Baixada Fluminense.

Para quem está assistindo de fora, isso pode até ser um choque, contudo para quem mora nos municípios da Baixada Fluminense é algo quase normal. Crimes aqui são cometidos e não são investigados, dificilmente alguém vai preso por um homicídio, ainda mais quando a vítima é pobre.

Sempre tive a desconfiança de que a Baixada nunca esteve nos planos de segurança pública do Estado, porém tive essa certeza ao ouvir a fala do Vinicius George, delegado da polícia civil, durante uma mesa que participamos no Observatório de Favelas no sábado passado (13), onde ele afirmou que a polícia funciona do jeitinho que tem que funcionar e o Estado está presente em todos os lugares, inclusive na Baixada. O problema, segundo ele, é que a polícia e o Estado não funcionam e estão presentes do jeito que nós queremos. A polícia foi criada para atender os interesses da corte (hoje governantes e elites) e controlar o resto (o povo). Afirmou que enquanto a sociedade não mudar, a polícia não muda. As atitudes da polícia só mudam com uma maior pressão popular.

Segundo dados do Governo Federal, Duque de Caxias e Nova Iguaçu são a segunda e terceira cidade do Estado do Rio de Janeiro mais perigosas para um jovem negro, com idade entre 15 e 29 anos viver. Aqui é onde os jovens mais matam e mais morrem. Aí eu te pergunto: – Quais são as políticas públicas de segurança para a juventude negra na cidade? NENHUMA!!!

No momento especialistas forenses, psicólogos e psiquiatras estudam o caso para saber se Sailson é ou não um Psicopata. Mas qual diferença isso faz agora? 43 pessoas já morreram e a culpa é do Estado. Um estado omisso. Que entrega toda uma população, cerca de 4 milhões de habitantes, à própria sorte.

Pra mim, a mensagem surreal que Sailson passa com sua prisão é de que a Baixada Fluminense é “Terra de Malboro”: – Venham matar aqui, não serão presos. A Baixada Fluminense está sitiada e o Estado assiste nossas mortes de camarote.

 

 

Sobre Dudu de Morro Agudo

Rapper, educador popular, produtor cultural, escritor, mestre e doutorando em Educação (UFF). Dudu de Morro Agudo lançou os discos "Rolo Compressor" (2010) e "O Dever Me Chama" (2018); é autor do livro "Enraizados: Os Híbridos Glocais"; Diretor dos documentários "Mães do Hip Hop" (2010) e "O Custo da Oportunidade" (2017). Atualmente atua como diretor geral do Instituto Enraizados; CEO da Hulle Brasil; coordenador do Curso Popular Enraizados.

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