quinta-feira, 21 novembro, 2024
Luiz Carlos Dumontt

Sobre a Polícia Adúltera

Eu estou enganado ou só agora que a imprensa descobriu que a polícia adultera, forja provas, ou melhor, comete estes e outros crimes?

Me lembro bem de quando eu era criança e via um helicóptero da polícia, todas as crianças da minha época se escondiam, quando víamos um carro de polícia ou um policial, todos calávam-se e se sentiam ameaçados. Nunca ninguém me explicou porque todos os meus vizinhos faziam assim, principalmente os garotos, mas confesso que até hoje eu não me sinto a vontade perto da polícia.

Eu só fui conhecer policiais bons depois que eu comecei a trabalhar com o Enraizados e me relacionar com algumas pessoas e instituições que são referências nas áreas de segurança pública e direitos humanos, mas são tão poucos que eu poderia até citar os nomes.

A polícia que eu conheci desde criança, SEMPRE matava os meus vizinhos, SEMPRE humilhava os meus amigos, SEMPRE se comportava de forma arrogante, SEMPRE desobedecia as Leis [porque as Leis só serviam para o cidadão comum, eles eram excessão], SEMPRE maltratava as pessoas. E eu não nascí bandido e nem os meus vizinhos o eram ou se tornaram, ao contrário, eram trabalhadores que passavam a maior parte do seu tempo longe dos filhos porque tinham que sair muito cedo de casa para o trabalho e chegavam muito tarde.

Já ví e ouví casos absurdos de pessoas serem roubadas diante da polícia e o policial ver a cena, virar as costas e ir embora, de policiais humilharem usuários de drogas, de exigirem dinheiro pra liberar um flagrante de trânsito [já aconteceu comigo, inclusive].

Uma vez eu trabalhava em uma lanchonete no centro de Nova Iguaçu / RJ; Essa lanchote era visitada periodicamente por policiais que comiam o que queriam e simplesmente não pagavam, viravam as costas e iam embora. Aconteceu que eu assumi a gerência da casa e o meu patrão me passou a inculbência de aumentar os lucros, foi então que eu percebi que o prejuízo da casa em sua maioria era dada pela má administração dos recursos e pela atuação da polícia. Praticamente todos os policiais de atuavam ou passavam em Nova Iguaçu comiam de graça na loja.

Então eu tive que parar de dar lanche de graça aos policiais. Como eles não me davam chance de cobrá-los [comiam, viravam as costas e iam embora] eu simplesmente cobrava antes de dar a mercadoria, falava o preço e esperava eles pagarem; Primeiro houve o estranhamento, eles achavam que era piada, e eu permanecia imóvel esperando o dinheiro, e então a ficha deles caiam e eles tentavam usar a sua dita “autoridade” sobre mim, diziam que era pra eu seví-los que eles eram policiais e que eles me mantinham em segurança, que graças a eles eu não era roubado e que não era nada demais eu os favorecer com lanches de graça. Então eu simplesmente falava o preço de novo e dizia que eles deveriam pagar primeiro. Eles então se ofendiam e perguntavam porque só eles teriam que pagar primeiro se os outros clientes só pagavam depois que comiam. Então eu diziam que os outros clientes não eram policiais. Aí a chapa esquentava de verdade, porque eles se sentiam ofendidos por mim, me chamavam de folgado e me diziam que sabiam a hora que eu chega e saia da loja, que eu não era de ferro e que poderia acontecer alguma coisa comigo. Era nessa hora que eu pegava a caneta, um pedaço de guardanapo de papel, escrevia o nome do policial e completava com: “me ameaçou em… data e hora. Depois aparentando uma calma [que era pura encenação] eu voltava ao caixa, pendurava o papel e de lá mesmo eu falava alto para que todos ouvissem, a hora que eu abria e fechava a loja e perguntava se eles desejavam mais alguma coisa.

Hoje eu não faria isso dessa maneira, de certa forma eu concordo com os policias que diziam que eu era muito folgado e confesso que Deus foi muito bom comigo porque logo [uns 3 meses depois de começar a agir assim]  começaram a aparecer policiais que faziam o seu pedido com a carteira na mão. Eu sempre atendia os policias pessoalmente e quando terminava de atender a esses que estavam com a carteira na mão e eles iam tiram o dinheiro da carteira eu falava: Senhor, se preferir, pode comer primeiro e pagar depois – Muito obrigado pela sua compreenção e auxílio. Com o passar do tempo eu não tive mais problemas com os maus policiais e fiquei ainda mais orgulhoso de mim e da minha coragem em enfrentá-los. Eu morria de medo, mas isso não me impedia de fazer a minha parte e exigir um posicionamento deles.

De vez enquando eu passo em algum estabelecimento e vejo o camburão parado e alguns policiais “fazendo compras”, tenho ânsia de vômito quando vejo esses ditos “policiais” que mais parecem abutres carniceiros em cima do cidadão como se fossem suculentas carniças. Mas sei que esses cidadão deixam esses sanguessugas sugarem o seu sangue, o seu lucro, o seu dinheiro e a sua dignidade.

Concluindo:
Aprendi, com a vida, que só teremos uma polícia decente, quando agirmos com decência, só teremos uma polícia digna de respeito, quando agirmos com dignidade, só teremos uma polícia honesta, quando aprendermos e praticar a honestidade, mesmo quando estivermos no erro.

A polícia que nós convivemos, não veio do espaço sideral e dominou a nossa sociedade. Ao contrário, são pessoas de nossa sociedade como eu e você, com os mesmos valores, moral e padrões de honestidade que temos, se a nossa polícia rouba, mata, humilha, é arrogante e preconceituosa, é porque, faríamos o mesmo se estivéssemos lá.

Pense nisso!

Trabalhe por um mundo melhor melhorando a sí mesmo primeiro!

Fica a dica.

Paz, sempre.

 

Sobre Dumontt

[Esta publicação (incluindo ideia, texto e imagens) é de total responsabilidade do autor, não refletindo, de forma alguma, a opinião do Portal Enraizados]. Luiz Carlos Dumontt é Produtor Cultural, Ator e Diretor de Teatro.

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