No meio do caminho tinha uma pedra. Tinham infinitas pedras no meio do caminho. Quando se é preto e pobre no Brasil, as pedras ainda são maiores e mais escorregadias. Essas pedras são tanto materiais, isto é, rochas prestes a rolar dos morros e favelas, local para onde muitos negros e negras foram empurrados.
Mas também, essas pedras são simbólicas. Ou seja, obstáculos que têm produzido “eus” retorcidos, mutilados e inferiorizados que impedem e/ou restringem o acesso dos negros e pobres a determinados espaços e asseguram a perenidade no poder de determinados grupos sociais.
O trabalho de Prettu Júnior vem de um lugar. Um negro, do subúrbio que encontrou e viu muitas pedras rolarem no meio do seu caminho e de inúmeros negros e negras moradores de favelas. Seu trabalho, portanto, não é apenas literário, mas de um intelectual público que quer romper com uma hegemonia elaborada e mediada por políticos e intelectuais que forjaram o discurso de uma cidade maravilhosa, cordial, em que negros e brancos (ricos ou pobres) vivem harmoniosamente.
Não são apenas contos, crônicas, ensaios ou histórias. É tudo isso junto e misturado. As palavras escritas por P. Junior se propõem ao mesmo tempo, uma análise das relações raciais a partir de sua experiência vivida, as suas observações, percepções e invenções sobre a vida urbana no Rio de Janeiro. Seu trabalho tem vida e morte, tem raiva, desejo, doçura, sarcasmo, intensidade, amargura, tem dor, realismo, ilusão, incertezas, prazer, medo, esperança, ressentimento, decepção. Seu trabalho tem pessoas de carne e osso, conhecidas e desconhecidas pelo autor. Pessoas que riem, choram, lamentam, …
As palavras e histórias de P. Júnior geram incomodo. Assim, o ficcionismo aparente de algumas histórias, aponta, em realidade, as trajetórias de inúmeros filhos de preto, isto é, dos Prettus Júnior que escrevem suas vidas com muito suor e sangue na cidade do Rio de Janeiro e a sua pouca, ou muitas vezes nenhuma, mobilidade social. Sua análise é de perto e de dentro. Ela faz um retrato das condições
objetivas e subjetivas vividas por muitos negros nas cidades brasileiras. Suas experiências, traumas, vivências, vitórias, …
Na noite ou no sol carioca de quase 400, na rua ou na favela, na festa ou no encontro amoroso, nas águas de março (que neste ano vieram em abril) fechando o verão, as formas de poder e violências diretas e indiretas marcam especialmente as pessoas mais pobres e negras moradores dos morros e favelas no Rio e em todo Brasil.
P. Júnior identifica as lutas diárias dos pobres, em sua maioria, negros com suas idéias contagiosas que despertam consciências, boicotam racistas, fazem pensar um mundo perfeito que poderia ser possível, ou pelo menos, um dia sonhado.
P. Júnior transita entre uma visão utópica (que nos dá horizontes) e sarcástica do mundo da vida. Expressa as inúmeras vozes negras e pobres que reclamam e reivindicam uma verdadeira cidadania para todos. Assim, o despertar da consciência significa para ele compreender a condição imposta aos negros e pobres nas cidades brasileiras na construção de suas lutas.
Por: Denílson Araújo de Oliveira¹
Doutorado em Geografia pela UFF (Universidade Federal Fluminense)
Massa, queria o contato desse mano. Trocar ideia com esse maluco ou de repente até entrevistá-lo.
PAZ
Peter MC
Poesia no texto ou texto na poesia. Denilson, suas palavras devm servir a todos guerreiros, que luta no dia e discansa lutando à noite. Parabens ao autor pela proposta e realização do livro e parabens ao Denilson, quem admiro, pelas palavras do prefácio
Prof. Dr. Andrelino Campos